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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

In certeza

Distraída demais pra ser cientista, decidi optar pela escrita. Eu a escolhi, acho. O que não significa que também fui escolhida por ela, a recíproca não é uma constante em minha vida. O meu problema talvez, e grande solução, seja a incerteza. Tudo pra mim é incerto. Tenho dois olhos, e parece que cada um deles, solitariamente, vê o mundo à sua maneira. Não sei se fui criada pra ver amplamente ou pontualmente, então fico no incerto. Meio vasto, meio nuclear. Vejo claro a liberdade, e também se ilumina a ideia de uma vida simples: marido no sofá, filhos correndo pela sala de jantar, e mulher preparando um agrado para todos na cozinha. Tem-se certamente uma beleza nisso sim, afinal, existe amor em tudo. O que não consegui explicar ainda foi essa minha devoção às coisas singelas, desfalecentes, fracas... Me emociono com velas acesas, luz do fim de tarde adentrando a janela do banheiro e gotas d’água se chocando contra a minha pele e ricocheteando em gotículas, quase virando vapor, formando um arco-íris no ar úmido, ah, esses momentos! Mas também tem as teias de aranha, as pétalas, os tecidos que se rasgam facilmente. Peles delicadas, pessoas frágeis. A fragilidade. Das pessoas, do tempo, das verdades, das certezas, do amor... Mas então o grande paradoxo reside nisso, nisso tudo e em mim, claro. Que vendo com dois olhos discordantes passei a ver meio torto. O que me amedronta nessas afirmações, teorias, decisões e escolhas, é isso. Passei quase 2 décadas tentando desconstruir todas as crenças que nos são legadas - a todos nós, não há como fugir - e então, tudo que menos quero agora, pode parecer lógico, é não construir mais nenhuma. Coisa que tenho pavor são dogmas. Mas aí está a dúvida que me atormenta: e alguém vive sem nenhuma certeza?

sábado, 7 de dezembro de 2013

Engraçado como você está sempre pronto para me arrancar toda a pose, toda a pretensão e esbofetar minha cara, sem premissas. Mas as melhores pessoas são essas, não são? As que doem profundo. As que mordem forte, pra deixar a marca, pra levar tudo o que as pertence no mundo. As melhores pessoas são essas sim, as que te fazem chorar sorrindo. Porque elas te machucam como machuca o filho que morde o seio da mãe sedento pelo leite que não sai. É. Essas pessoas buscam. Todas nós buscamos. E às vezes alguns seios não conseguem alimentar a nossa fome. E dói não ter o que oferecer para os convidados quando eles chegam na casa que você arrumou tão bem para recebê-los. Mas eles tem é fome. É fome que eles tem. É fome que você tem. E só o que eu tenho pra te oferecer é um apetite ainda maior.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Às vezes dá uma moleza nas pernas, uma falta de ar, uma dorzinha pontiaguda no estômago, como que um anúncio solene de que a alma precisa descarregar-se. Mas você segura as lágrimas, economiza porque você vai precisar delas mais tarde. Mas fica, aquele aperto no peito. Fica aquele zumbido na cabeça. E fica aquela agitação infeliz da alma, o desespero das coisas que não se pode evitar.
É uma paz angustiada. É um aguardar nem paciente, nem ansioso, mas um aguardar que gostaria de ser perpétuo, que se consumasse em um adiar indelével. Você não sabe como, ou quando, mas você sabe que vai acontecer, e isso é hediondamente doloroso. Só o pensar, o imaginar.
Parece que estamos vivendo sob ameaça constante. No mesmo momento que tudo parece tão bem, tudo parece estar em sintonia, e que todos já se acostumaram e aceitaram as coisas como elas são... Parece que por trás, serena e discreta, está sempre uma angústia resguardada. No mesmo instante que estamos todos inteiros e felizes, estamos todos tristes e despedaçados.
E você me diz que ele chorou. Vocês choraram. Nós choramos. Até hoje nós choramos, mesmo em meio há tantos risos, e risos sinceros, em nenhum momento eu fingi estar bem. Mas parece que estar bem é isso. Estar bem é intrínseco a isso. Estar bem é nunca deixar pra trás o que fomos. É aceitar o que somos e nunca, nunca nos afastar completamente do que éramos.

O meu momento é de espera

Hoje me prolonguei demais naquele café
Me apego demais à reclusão, é comum
É difícil me concentrar no que eu deveria
Sair do travesseiro dos meus pensamentos
Me desenrolar dos lençóis das minhas reflexões
Eu simplesmente ignoro todos os chamados
e despertadores de divagação

Mas o fato é que
Fiquei ali, assistindo a chuva cair, sozinha
Ninguém por fora
Ninguém por dentro
Tenho estado só.
Mais só do que...
A solidão pura, em essência.
Porque me sei só.

Tenho estado só, universalmente.
Não me acredito mais tendo alguém.

É que a gente sempre quer ter alguém
que dê passos sincronizados aos nossos
Assim como a gente faz, de mãos dadas,
quando crianças...
Sem motivo algum.
E é assim, aparentemente sem motivo,
que a gente cresce
e continua precisando daquilo
Só que metaforicamente.

Mas a solidão ecoa
E é preciso se acostumar.
Me demoro um pouco mais nesse sofrimento
Me prolongo nessa cadeira
Me desenrolo no canto dos pássaros,
satisfeitos como eu com a visita da chuva
Me diminuo
Me planto
Quero brotar

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Acho que este texto não deveria ter sido escrito

Sinto frio. E calor.
Já dei três voltas na casa.
O quintal é tão amplo.
E eu já não sei mais onde me encaixo melhor.
Se fico no sol, sinto minha pele queimar.
Se sento-me na sombra, minhas mãos doem por conta do frio.
E eu penso que posso lidar com isso.
Mas não sei o que fazer.
Eu preencho meus dias com as músicas que descobri gostar.
E com os filmes que ficaram pra serem vistos.
Mas eu realmente não sei qual é o próximo passo que devo dar.
Três vasos vazios no corredor,
do lado de fora.
Entro. E por dentro é tão vazio quanto por fora.
E tão frio quanto à sombra.
E eu não tenho o que fazer.
Eu acho que queria estar contigo.
Mas sei que essa não é a solução pra tudo.
O que eu faria ao teu lado?
Se eu não sei mais o que fazer de mim.
Penso que poderia ler os livros que comprei, mas não sinto vontade.
E pra quê? Afinal?
Às vezes me parece que estarei infeliz em qualquer lugar.
E penso em todos os lugares que poderia estar
em todas as coisas que poderia fazer
e eu não quero nenhuma delas.
Não tenho um objetivo pra minha vida.
E eu não sei onde posso encontrar minha paz.
Sei que existem coisas lindas a serem vistas,
e essa música, ela é ótima.
Mas parece que tudo perdeu o sentido de ser.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Essa é, com toda certeza, a separação mais dolorosa da minha vida.
Você me entregando a sua chave de casa, levando consigo todas as coisas tuas...  A casa ficou tão vazia. Os quartos. A sala. A cozinha. O guarda-roupas. O quintal. Os banheiros. E o meu peito. Eu não posso explicar o tamanho do vazio que se abriu em meu peito.
Eu fico imaginando a falta que você vai fazer aqui, e é inimaginável. Não dá pra mensurar. Não dá pra dizer a dor que eu sinto em pensar em não te ver mais quando eu chegar de um dia horrível lá fora, e não te tiver aqui pra me perguntar se eu estou bem. E não te ter aqui pra reclamar da minha cara feia, ou de mim trancada no quarto quase o tempo todo. Eu ficava mesmo. Mas você vir aqui, toda hora abrir a porta, perguntando se eu iria comer, ou abrindo a porta só pra me olhar mesmo... Era, sabe? Maternal. E nada substitui isso.
Eu sei que a gente vai continuar se vendo. E que agora eu tenho uma nova casa. Mas, eu não sei se consigo lidar com esse vazio. É amplo demais. É sem você demais. E você era tudo aqui. Você era a alma dessa casa. Sempre foi. Por mais que você não entendesse isso.
Eu nunca aceitei bem perder as coisas na minha vida. Eu sou o tipo de pessoa que não sabe aceitar perdas. Não sabe lidar muito bem com mudanças. Eu lembro de certa vez na minha infância, quando perdi uma pulseirinha que gostava muito, eu fiquei extremamente frustrada. E não sabia aceitar que eu tinha simplesmente perdido aquilo. Eu gostava tanto! E estava ali, sempre que eu quisesse usar, então, de repente desapareceu. Eu poderia comprar outra, mas eu queria aquela. E procurei em todos os lugares do quarto, mesmo sabendo que ela não estava em lugar nenhum. Eu procurei incansavelmente, com esperanças infindas. Não encontrei. Fiquei triste. Sonhei algumas vezes que achava ela, sem querer, em algum lugar... E era só uma pulseira! Então não preciso nem explicar o que ocorre quando perco pessoas. Quando pessoas que estão todos os dias aqui, se vão. Pode não ser pra sempre, pode não ser uma perda total. Mas as coisas mudam muito com uma mudança pequena. Tudo muda. E eu não posso aceitar. Não me peçam pra aceitar isso, porque eu não posso. Eu não posso aceitar que o tempo, ou a distância, ou a vida me tire as coisas que amo. Porque eu não sei perder. Não sei! E não saber não tem conserto. Não saber não tem solução. Podem dizer que é o melhor, que no futuro eu vou olhar pra trás e perceber o porquê das coisas terem seguido esse rumo, mas isso não me consola. Isso não facilita. Isso não traz de volta.
Eu quis não te deixar ir, só Deus sabe como eu quis te abraçar e implorar "fica, fica porque eu preciso de você". Porque eu preciso mesmo. Mais que do que de todas as outras pessoas que eu nunca soube deixar ir. Você é tudo que eu tenho, aliás, você é a única coisa que eu tenho na vida. E só por isso eu me calei. Eu te ajudei a levar as malas. A ir embora. A me deixar aqui, SÓ. E puta que pariu, só agora eu sinto de verdade o que é ser só. Mas eu tive que te deixar. Porque eu te amo tanto, mas tanto, que eu só quero te ver bem, nem que pra isso eu precise ficar longe de você. Mais que tudo nessa vida, eu só quero te ver bem, eu só quero que você seja feliz. O ser humano mais feliz do mundo. Por tudo. Porque eu só existo por tua causa, e pra você, só pra estar aqui te desejando, com todas as forças do meu ser, felicidade e paz. Obrigada por tudo, pela minha vida, e pelo que eu sou, eu devo TUDO à você.
                                       More than anything I want to see you, girl
                                     take a glorious bite out of the whole world.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A gente precisa se libertar;

eu disse, sem pensar direito no que estava dizendo. E ela se aproveitou da minha deixa para começar a falar. Mas eu já sabia e a interrompi, não queria falar sobre aquilo, não naquele momento. A vida andava sendo meio rude nos últimos dias, e meus olhos inchados estavam ali para reforçar. Mas ela já sabia que eu sabia, não ligou pra minha interrupção e continuou. Por um momento pensei que seriam as mesmas palavras de todas as outras vezes, e ela me veio com isso...
A gente não pode conter o choro quando é pego de surpresa por uma verdade doída e incontestável. Apenas coloquei os óculos, me virei para a janela e deixei as lágrimas escorrerem. Não era raiva. Nem uma tristeza que corroesse o peito e me fizesse ter vontade de gritar e lutar contra, se por acaso eu tivesse forças para lutar contra algo. Era a verdade. A simples e pura verdade, que a gente procura evitar a todo custo, sempre. Então fiquei escutando ela falar. Queria contestar, queria brigar e dizer que ela estava errada, que não podia nem devia fazer isso, que essa não seria a atitude certa a se tomar, (como das outras vezes) mas não pude. Porque era sim, a atitude certa a se tomar, e as coisas são mesmo assim, conforme ela dizia. Como eu poderia impedi-la de fazer por si o que eu mesma fiz por mim?
Às vezes a gente precisa se libertar, dos outros. Pra que então, possamos amar direito. Pra que a gente se machuque menos, e machuque menos a pessoa que a gente ama...
Foi isso que ela disse dessa vez. E o que poderia anular o efeito disso?
Foi o que eu fiz dessa vez, também.
Parece, às vezes, que, só gostar de alguém não é motivo o suficiente pra que fiquemos juntos. Só querer estar junto não é forte o suficiente pra fazer dar certo. Só admiração, não é o principal, o indispensável.
Às vezes a gente gosta, muito, a gente quer, muito. A gente admira, de mais. Mas a gente não se respeita, a gente não se encontra, não tem sincronia. Um anula o outro. E acaba que amar faz mal. Muito mal. Estar junto faz mal.
O porquê disso? Deus, como eu gostaria de saber! Mas é assim, a vida é estranha. Às vezes você precisa amar de longe, pra amar melhor. E dói, dói saudade. Mas a gente precisa entender que é melhor.
Eu demorei pra entender por mim, mas por fim compreendi, e não posso fingir não compreender por ela.
Mais uma vez, fará chorar. Mas vai ser o melhor, não é? Espero que sim.
Estou do teu lado.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

escrito em algum dia de Maio

Vou aproveitar o gosto
no fundo da minha língua,
reincidente em minhas papilas,
vou aproveitar o cheiro tão
singular, reconhecível por
mim como o odor da caça
nas narinas do caçador, que
ficou na última roupa
que usei pra te encontrar.
Vou aproveitar o riso, o mais forte
o mais gostoso de todos eles.
Vou aproveitar a sensação de
pele
Os arrepios.
Vou aproveitar o suor pegajoso
no meu busto.
Vou aproveitar cada dia gasto
cada filme visto,
e os não vistos
e o cheiro úmido da mata
no caminho pra tua casa.
Vou aproveitar as ruas calmas
da tua cidade, sempre vazias
que pareciam ser cenário de
um filme de suspense, dos mais tediosos.
O vento que entrava pela janela.
Vou aproveitar o tempo
que não existiu,
não importa quantas vezes eu perguntasse
pelas horas.
A minha imagem irritante
que se repetia
no espelho, logo na entrada,
me questionando
"por que diabos você está aqui
de novo?"
Vou aproveitar os teus
olhares, indubitavelmente
intransponíveis
olhares que sempre me barraram,
que eu nunca os soube interpretar.
E o não.
Que nunca fora um sim. Mas sim,
incerteza.
Pra tecer o meu poema.

fui um copo

Me doeu um pouco pensar agora, ao ouvir essas músicas intituladas como "sentir-se bem", que sempre me remetem a algum momento no qual eu, de fato, me sentia bem ao ouvi-las. Foram várias as vezes, e de vez em quando eles caem no assoalho da minha memória, sabe-se lá de onde, sabe-se lá por que, mas caem fazendo estrondoso barulho.
Tudo para, e eu revivo aquele momento. O carro, a estrada, duas ou três horas da manhã, e a gente fazendo o que você sabia fazer de melhor, nos sentindo bem. Você cantava e dançava enquanto dirigia, e eu não conseguia me mexer, só te observava e ria, com uma necessidade enorme de registrar aquele momento, pra poder fazer isso que faço agora, lembrar minuciosamente, de cada detalhe, cada sensação.
Mas o curta de nós dois não dura muitos minutos, então a lembrança se dissolve como fumaça... E fica só a música, e o não sentir-se tão bem, dessa vez. E eu me pergunto: por que temos de ser descartáveis na vida das pessoas? Por que temos todos esses momentos bons compartilhados, e depois, sem mais nem menos, nos tornamos um não-sei-o-quê-mas-não-faz-diferença a ser evitado? A gente quase se conheceu, e aí... Fim de linha. Acabou. Você é você, eu sou eu, e aqueles lençóis que secaram o nosso suor, eles não podem dizer que são testemunhas de nada. E as palavras que usamos um com o outro, bem, elas não podem falar sozinhas. Nada foi sólido. Nunca será. E a gente pode simplesmente seguir e dizer quando falarem nossos nomes "ahh, sim, conheço" da mesma maneira que falamos daqueles que vimos na rua, uma vez. Que coisa terrível de se dizer, mas é verdade. Me sinto feita de plástico, usada e jogada fora... Como um copo descartável mesmo. Fui pouco mais que um copo na sua vida, com a diferença de que eu não posso ser reciclada. Eu vou remanescer aqui, poluindo o ambiente.

domingo, 23 de junho de 2013

Lá no Norte as coisas eram diferentes

Tantos filmes pra ver, tanta coisa pra ler, tantas coisas pra buscar, se informar, compartilhar... Que a gente até se esquece de viver.
Tenho esse costume, hoje mesmo passei cá o dia trancada até decidir que iria visitar minha avó.
Peguei as chaves, calcei algo, abri a porta... E eis que me deparo com aquilo tudo: há vida lá fora! E de uma beleza estarrecedora, fiquei paralisada ao ver a lua tão iluminada e bela. Foi emocionante.
Fui então fazer uma breve visita aos meus amados avós, chego lá e sou maravilhosamente recebida, como jamais serei em qualquer outro lugar nessa vida. É verdade. Não que me odeiem por aí (uns ou outros odeiam sim), nem que eu ande sendo mal recebida nos lugares, mas é que esse amor que meus avós tem por mim, bem... não existe igual. Parece que eu sou a melhor notícia do dia, a melhor coisa a passar por aquele portão, parece que eles sentem minha falta, e adoram, de verdade, a minha presença. Ai, como me sinto plena ali. Em casa.
Parece que quando chego e abraço minha avó, vejo que ela está bem, e contando suas histórias do Norte, todos os problemas, que os noto tão pequenos agora, se desfazem como fumaça em vento. Viajo em suas histórias, me imagino vivendo em seu tempo de juventude, ahhhh... como eu queria ter vivido nesses tempos de calmaria e paz! Ter ido à festas de vila, ter sido batizada na fogueira, ter sido roubada do meu noivo pelo meu amor proibido, ter fumado escondida do meu pai, mesmo recebendo o  fumo dele mesmo, rs. Os dias, os anos, passando tão devagar, tempo pra pensar, pra viver. Sabe? Parece que era tudo tão diferente. E essas não são conjecturas, são palavras de quem vivenciou tudo isso, e hoje me conta.
"Ah, eu adorava fumar. Adorava o cheiro do fumo, sabe? Hoje em dia me incomoda, eu não gosto. Mas parece que quando a gente fuma, o cheiro do fumo é o cheiro mais agradável que existe."
Quero guardar tudo que ela me diz, todas as tuas histórias, sua risada, suas expressões, seus olhares, a textura de sua pele tão frágil, envelhecida. Quero te abraçar mais vezes ainda, te pôr no colo, cuidar. Te dizer que te amo, mesmo com medo de chorar e te fazer chorar. Quero te dar a alegria de me ver formada, crescida.
Quero dar aos meus filhos o privilégio de te conhecer.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Lady, where has your love gone?

Esses fins de tarde sempre me detiveram. Me captam o olhar e parecem me penetrar com tamanha intensidade que me levam a sentir algo, mesmo que por dentro não haja mais nada. Sempre foi assim.
Estranho o sol já estar se pondo, o ponteiro ainda não transpassou a marca do cinco. Mas é junho. Bem, nem sei ao certo se isso faz alguma diferença... Caramba! Já é junho... E todos os outros meses parecem ter se posto tão precocemente quanto este sol.
É junho, e eu já chorei tantas vezes esse ano, e me dou conta de que ainda é junho! Quantas lágrimas para serem divididas somente entre maio, abril, março, fevereiro e janeiro. Mas esses raios fracos e penetrantes que atravessam minha pele e a envelhecem mais a cada ciclo circadiano, eles me dão vontade de chorar uma vez mais. Não sei bem o porquê, não sinto tristeza, me sinto tranquila, tão em paz que até estou estranhando. Meu coração aparenta pulsar em seu ritmo usual. Mas esse horizonte que minha visão alcança, que parece tão oponente e rijo, real. Ele existe, penso que posso guardá-lo pra sempre, e no entanto, sei que daqui a três dias, senão antes, ele terá se perdido...Com toda sua majestosidade, ele terá simplesmente deixado de existir, até mesmo em minha memória.
E agora não sei mais se posso conter as lágrimas que começam a se amontoar nos cantos dos meus olhos, se posso empurrá-las de volta.
Tenho tanto medo que as coisas boas que me recordo ao observar esse horizonte de beleza inalcançável, e que revivo, e que por segundos me fazem plena... Tenho medo que esse passado se distancie tanto que eu já não possa alcançá-lo nem mesmo em momentos como esse, nem em memória.
E então, amor, o que seria de nós? O que seria da nossa existência tão real e sólida dentro daquele lago, num fim de tarde como esse? Existimos. É incontestável. Nossas peles molhadas se tocando, elas não podem ser desmentidas, nossa respiração ofegante, teu riso, teu cheiro, eles não podem ser negados se são, e foram tão reais, que são quase tangíveis... Mas e se eu não puder mais revivê-los como os revivo agora?

terça-feira, 11 de junho de 2013

O melhor poeta da América, já dizia Sartre

Mais um foi quase
e voltei a fumar
e sucumbi as palavras,
andei até lendo o velho safado
e até dando umas boas risadas
mas não deixando de me sentir ofendida
com minha velha mania
de tomar tudo por dito para mim.
Ele é por demais igual a você
se escrevesse, seria como te ler
viril demais
impetuoso demais nas palavras.

Esse cara não tem mesmo sensatez
não hesita em esporrar suas verdades
na cara de ninguém.
E eu bem sei,
as coisas são mesmo como descritas
Uma vem, você devora
outra é recordada, você puxa uma.
outras deixam recados,
mandam mensagens...
Mas é da minha natureza repelir isso
enquanto procuro,
como se houvesse que existir por necessidade moral,
o mínimo de romance ali.
Onde não há.

Misturei as tuas paixões às minhas,
e agora amo até o mais improvável.
Mas me peguei aqui, a assumir gostar
de coisas as quais eu jamais me permitiria
e me sinto outra pessoa ao dizer aos outros
que aquilo me agrada.
Mas o pior é que gosto mesmo, e gosto muito.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Clandestina

Acordei meio clandestina. Meio descompassada, meio fora do tom.
Abri os meus olhos, senti-os tão meus, tão dependentes de mim. Quis voltar a dormir, dormi. Estava atrasada, mas é como se não estivesse.
Levantei-me, andei pela casa, rodopiei, ninguém. Então eu ecoava ali naquele labirinto vazio. Olhei pra fora, céu cinzento em pleno verão. Não era eu. Senti vontade de puxar toda aquela camada poeirenta e seca de ar pra dentro dos pulmões, consumir aquele ambiente externo, tornar-me livre. Sair correndo nua ali, sem carregar nada, sem sentir que deixei nada pra trás por não haver onde carregar nada mais além de mim, e correr, correr, sem rumo, correr até onde eu pudesse, sem pretensão voltar, exatamente por não ter pra onde voltar. Teria a liberdade presa dentro de mim se atraindo por tudo que pudesse ser também, liberdade.

Mas ela era mais forte do que eu, fechei a janela.

Pensei no que deveria fazer no dia de hoje, e como se todo o meu corpo se recusasse fortemente, como ação de auto-defesa, achei que não... Que EU não devesse fazer tudo aquilo. Que aquilo não me pertencia, aqueles horários, aquela rotina, aqueles deveres, até aqueles hábitos que eu tomara por meus, eles eram de outrem. Aquilo não era eu. Estive sendo usurpada. Há outro alguém vivendo por mim em meu lugar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Coisa bonita demais dói

Vez ou outra acontece de um vazio imenso me acometer. Um vento gélido soprando no peito, que parece ser feito só de buracos, e dá uma sensação de que aquela ausência desmedida vai me engolir por inteiro, e as mãos suam frio. Os braços se unem em um auto-abraço, tentando diminuir o tamanho do buraco que arde, e os olhos varrem os arredores buscando um algo-que-não-se-sabe-o-quê-ao-certo.
Sabe, desvendei que isso tudo é falta de uma coisa. E que quase tudo ao meu redor é falta de amor.
Hoje me despedi de alguns primos pequenos, que vieram aguardar o nascimento de seu novo irmão em minha casa. Nos últimos dois dias eles trouxeram uma certa alegria aqui pra dentro desse lugar vazio, silencioso e quase inabitado que é o meu próprio lar. Então, hoje, seus pais os vieram buscar, com o novo pupilo, ainda incapaz de desgrudar as pálpebras... A coisa mais angelical e inocente, nos múltiplos sentidos da palavra. Uma pureza que aflora na pele, tão puro e imaculado que dá até medo de tocar.
E ver aquela família ali, bem na minha frente, com laços tão bem estabelecidos de amor. Com aquela proximidade tão grande, aquela vontade tão congruente de estarem perto, de se olharem, cuidarem-se. Amarem-se, sem medida, sem medo. Aquele amor, tão autêntico, tão expresso, tão óbvio que é quase dito indestrutível, imutável e indelével... Me confrontando, me encarando, me pondo às faces que eu não tenho nada daquilo... Que nunca cheguei perto de estar perto de ter algo sequer parecido. Doeu. Mas não de inveja, jamais. Doeu essa dor do vazio. A dor que dá de voltar pra casa depois de um dia bom. A dor da saudade do que nunca foi. Doeu sereno. Doeu bonito, porque aquele amor, aquela cena de uma família comemorando a chegada de mais um membro para amar e ser amado, jamais poderia causar outra sensação que não a de beleza incomensurável.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


Será que alguém no mundo já morreu por incompreensão?
Às vezes acho que vou acabar sufocando e morrendo assim. Deve ser possível. Viver num mundo em que ninguém entende ou dá alguma importância para o que você diz, pensa e sente, é de certa forma asfixiante, pra não dizer completamente. Fico a me perguntar quando pego um coletivo, por exemplo, se ali, no meio de todas aquelas pessoas solitárias e que evitam umas as outras como se se odiassem sem sequer se verem, se não existe ali mesmo, alguém, qualquer um, que pense como eu. Que se incomode como eu. Que surte como eu. Que queira fugir, desesperadamente, assim como eu. E talvez se ali mesmo, dentro daquele espaço opressivo e angustiante em que seres humanos ignoram uns aos outros durante horas sentados lado a lado, uma única pessoa pudesse simplesmente se comunicar comigo, e me entender, de repente nós duas pudessemos sanar esse desespero, pudessemos querer ficar.
Talvez eu mesma tenha me ocluído. Enfiado minha cara em meio à páginas de um bom livro e ignorado o resto do mundo. Mas aí percebo que só fiz isso porque todos me obrigaram à fazê-lo. Ninguém diz mais nada. Todos falam, e falam, e falam mais. Mas dizer, coisas que nos façam refletir, coisas que às vezes nos fazem calar dentro da cabeça todos os outros pensamentos só para ouvir o que a pessoa tem a dizer, bem... Isso não há mais ninguém que faça. Só ouço coisas que, pra mim, não fazem muita diferença ouvi-las ou simplesmente ouvir a mesma música que se repete pela décima vez nos meus fones de ouvido.  Há quanto tempo não tenho uma boa discussão? Há quanto tempo não me calam os pensamentos? Há quanto tempo não me fazem ver o mundo de outra forma?
Eu sinto falta de uma amizade, uma amizade assim, que fosse entender, mas não somente entender, que soubesse o que eu quero dizer com tudo que estou dizendo. Sinto falta de ter alguém pra dizer essas merdas, ao invés de precisar fazer esse monólogo, e escrever assim, coisa sem futuro.
Só jogar conversa fora me serviria, mas uma boa conversa, daquelas que não dá vontade de ir embora, uma conversa tão boa que depois dos dois beijinhos e até logo, você caminha até em casa se sentindo mais leve. Sentindo que dividiu-se com alguém. Que partilhou teu peso. Que flutuou, deixou de ser carne e sentidos, e foi só pensamento. Porque quando se é só pensamento nada mais importa, não importa se você está bem vestido, se você teve um dia bom ou não, se sua vida vai bem ou não, se você fez as unhas, cortou o cabelo, se vai ter dinheiro pra sair no fim de semana... Por um momento, um interstício de tempo, você e outra pessoa se livram do peso do que são, e se encontram uma na outra. E tudo parece mais leve se dividido com alguém, até mesmo um pensamento.
Mas meus pensamentos tem se amontoado um sobre o outro. E eles tem pesado, como as bolsas das pessoas que vão em pé no coletivo, e ninguém que está sentado se dispõe a levá-las, como um favor que se presta sem querer nada em troca. Tem sido assim comigo. Tenho silenciado a mim mesma, pois não há ninguém que me ouça. Ah, eu já tive boas pessoas que levavam minha bagagem quando podiam... E hoje eu simplesmente não as vejo mais, não as encontro mais.
Às vezes tento, até ensaio falar, mas algumas pessoas não alcançam o que quero dizer, outras não conseguem mais segurar tanto peso que já tem sobre si, outras me fazem sentir idiota demais ao abrir a boca, fazem parecer tudo tão pequeno quando externalizado. Mas ainda há aquelas que simplesmente viram as costas e saem, sem se importar com o que está sendo dito... E as que me entendem, bem, aquelas que eu gostaria de ter por perto... Essas estão em falta. Essas eu procuro todos os dias olhando nos olhos de desconhecidos e lançando-lhes um sorriso. Procuro nessas pessoas que estão dentro de um ônibus, de um metrô, de uma sala, tão sós quanto eu. Mas sabe-se lá o que elas pensam, elas não parecem querer sair daquela nuvem cinzenta e pegajosa que são seus próprios pensamentos. Não as julgo. Mas procuro, encolerizadamente, alguém que como eu, precise se desvencilhar desse mundo obscuro e solitário.

quinta-feira, 14 de março de 2013


Algumas vezes sinto como se estivesse ocorrendo uma guerra aqui dentro. Uma enorme batalha, na qual, eu, luto contra mim mesma. Mas não é algo consciente, não é algo controlável, e não são dois lados, um à combater o outro, cada um defendendo um ideal... Na verdade, é mais como se existisse um monstro gigantesco tentando se libertar, e eu, menor, o prendo, mas não porque não quero o mesmo que ele, e sim porque tenho medo do que ele possa querer. Tenho medo que seu desejo vá além do que minha estatura me permite alcançar, tenho medo de que seus desejos não sejam realizáveis neste mundo que meu pequeno corpo habita. Tenho medo de soltá-lo e de que ele somente me machuque, me frustre ainda mais. Eu tenho medo de não conseguir. Então tenho medo de dizer o que eu, no fundo, acho que quero e depois descobrir que eu nem queria tanto assim. Eu tenho medo de criar uma outra guerra. Eu tenho medo de falhar. Tenho tantos medos que me fazem aceitar o agora. Mas não com resignação. O monstro dentro de mim não aceita o agora. Ele não se contenta com essas migalhas do que posso ser para o mundo, ele quer que eu seja mais. Ele tem sede de vida. Ele quer explorar o mundo, ir além. Ele não quer envelhecer... Ele não quer esperar o que pode acontecer amanhã, porque ele também tem medo, mas o medo dele é diferente, ele tem medo é de não fazer tudo o que deseja, ele tem medo é de não ser tudo o que poderia ter sido, ele tem medo de se prender ao agora. Às vezes ele se acalma, se silencia... Mas sempre algo o desperta, e ele tenta violentamente se tornar livre. LIVRE. Acho que é só isso o que ele quer ser, livre. É só isso que lhe falta: liberdade. E ele se debate dentro de mim em busca disso, tão violentamente, que eu sinto raiva, sinto raiva de tudo, de todos, da vida, do mundo. Eu sinto raiva e meu corpo todo sofre com isso. Minha cabeça dói, eu quero gritar, quero deixá-lo sair. Quero que ele jorre como um jato violento de vômito que meu próprio organismo expulsa para fora de mim. Eu quero deixá-lo fazer o que quiser de nós dois, eu quero que ele me guie, que ele vença, que haja trégua. Eu quero a paz. Mas eu sei também, que essa será uma busca sem fim... A paz, ela não existe, e a liberdade tão pouco. Pois bem, mas eu poderia ser tudo que sonho ser, bastava que eu estrangulasse o meu já atrofiado lado racional.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pra 2013;

Tudo que eu queria era paz, e um tempinho pra não pensar.
Eu não precisava apenas de férias comuns, eu precisava de umas férias de tudo. Umas férias de mim, umas férias dessa mente disfórica, cheia, bagunçada. Desses problemas e dessas preocupações recorrentes.
Eu queria uma praia, solitude, um cigarro. Vento que passa e parece varrer por dentro, o coração. E o barulho surdo do mar. Apenas.
Precisava de uma mente vazia e de um oceano a perder de vista, preenchendo o olhar. Aquele barulho do vento batendo nas águas e às desestabilizando. O barulho que faz o interior da gente querer explodir e se misturar ao todo, às miríades de grãos de areia, às gotas incontáveis de água salobra do mar.
Eu queria tirar todo esse peso que faz parecer que o mundo está sobre minhas costas.
Eu preciso me sentir completamente vazia de novo, e ao mesmo tempo sentir que meu interior é infinito.

Do que ficou em 2012;


Pele. Cheiro. Toque. Gosto. Sussurros. Risos. Um carro. Chuva forte. Vidros embaçados. Filmes não vistos no cine drive in. Rua deserta. Pixies. Guarda-roupas. Pés nos pés.
Nunca cogitei ser idônea de descrever algo como isso, porque é inefável, intangível. E aí está o gozo do poder sentir. Sentir é precioso, só você sente. O sentir é único e individual. Não se repassa, não se descreve, não se explica e não se repete nunca.
Tem o jeito do vento que bate, leve e úmido, arrepia, entra por de baixo da saia. E causa a mesma sensação de calafrios de uma febre que está por findar-se.