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quinta-feira, 14 de março de 2013


Algumas vezes sinto como se estivesse ocorrendo uma guerra aqui dentro. Uma enorme batalha, na qual, eu, luto contra mim mesma. Mas não é algo consciente, não é algo controlável, e não são dois lados, um à combater o outro, cada um defendendo um ideal... Na verdade, é mais como se existisse um monstro gigantesco tentando se libertar, e eu, menor, o prendo, mas não porque não quero o mesmo que ele, e sim porque tenho medo do que ele possa querer. Tenho medo que seu desejo vá além do que minha estatura me permite alcançar, tenho medo de que seus desejos não sejam realizáveis neste mundo que meu pequeno corpo habita. Tenho medo de soltá-lo e de que ele somente me machuque, me frustre ainda mais. Eu tenho medo de não conseguir. Então tenho medo de dizer o que eu, no fundo, acho que quero e depois descobrir que eu nem queria tanto assim. Eu tenho medo de criar uma outra guerra. Eu tenho medo de falhar. Tenho tantos medos que me fazem aceitar o agora. Mas não com resignação. O monstro dentro de mim não aceita o agora. Ele não se contenta com essas migalhas do que posso ser para o mundo, ele quer que eu seja mais. Ele tem sede de vida. Ele quer explorar o mundo, ir além. Ele não quer envelhecer... Ele não quer esperar o que pode acontecer amanhã, porque ele também tem medo, mas o medo dele é diferente, ele tem medo é de não fazer tudo o que deseja, ele tem medo é de não ser tudo o que poderia ter sido, ele tem medo de se prender ao agora. Às vezes ele se acalma, se silencia... Mas sempre algo o desperta, e ele tenta violentamente se tornar livre. LIVRE. Acho que é só isso o que ele quer ser, livre. É só isso que lhe falta: liberdade. E ele se debate dentro de mim em busca disso, tão violentamente, que eu sinto raiva, sinto raiva de tudo, de todos, da vida, do mundo. Eu sinto raiva e meu corpo todo sofre com isso. Minha cabeça dói, eu quero gritar, quero deixá-lo sair. Quero que ele jorre como um jato violento de vômito que meu próprio organismo expulsa para fora de mim. Eu quero deixá-lo fazer o que quiser de nós dois, eu quero que ele me guie, que ele vença, que haja trégua. Eu quero a paz. Mas eu sei também, que essa será uma busca sem fim... A paz, ela não existe, e a liberdade tão pouco. Pois bem, mas eu poderia ser tudo que sonho ser, bastava que eu estrangulasse o meu já atrofiado lado racional.