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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Chuva que parece afago

De novo você está só. Sozinha.
Uma pessoa que te lembra um pouco você mesma passa, para, te pede um cigarro, te dedica um sorriso de gratidão e vai embora.
Outra passa, um troque de olhares, efêmeros como as passadas rápidas de alguém que tem pressa numa vida apressada para uma inconcludência, rumo a uma nova pressa que leva sumariamente ao nada.
Mais alguém, e passa...
Ali, vem mais um, te rouba um carinho. Divide contigo porções moderadas de prazer. De ímpeto te faz perder o fôlego, que já lhe falta. Te deixa dormente. Faz estremecer tua carne. Te ocupa um interstício de tempo, e o pensamento. E como fosse ficar, e te dar o que nem se procura ainda mas se quer certamente, passa. E você se vê só, de novo. Um pedaço vazio de papel branco com coisas escritas no verso. Só você e o cigarro que queima tão rápido quanto esses instantes que propõem compor sua vida.
Um trago, o desejo de retê-lo, um sopro e ele se desfez, e foi, e não é mais nada senão uma ideia vaga de que um dia possa ter sido. Como esta ideia. Este pensamento que jorra com tamanha força e fugacidade, como que querendo extravasar esse espaço, hernia, te obrigando a arrancá-lo e lançá-lo em algum lugar. E cessa.
Então é só você e a chuva, tênue, silenciosa, tão delicada que ao tocar sua face parece acariciar, como uma resposta à tudo para não ter pressa. Pra deixar passar. Deixar tocar. Deixar molhar.
E ir embora.


                                      laisser passer

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sartre dissertando sobre como tenho passado

"Isso fui em mim, mais depressa ou mais devagar, não fixo nada, deixo correr. A maioria das vezes por não se ligarem a palavras, meus pensamentos permanecem nebulosos. Desenham formas vagas e agradáveis, submergem: esqueço-os imediatamente."

Devaneio litorâneo

Quero dar banho no meu filho de regador...

                           Eu quero café no bule de alumínio, com tintura branca desbotada.

Sentimento falho, recente, passageiro

Pra ela é como despir-se de si mesma, isso de tentar conhecer e ser conhecida por um novo alguém. É como escalar uma grande montanha, para poder ver do ponto de vista de outrem, o sentindo da grande piada... E que escalada mais exauriente.
E ela estava ali. De pé, sob a mira dos holofotes, exatamente assim, nesta situação. Despida não só de suas vestes, mas tendo encarada a nudez de sua alma. Tendo seus olhos invadidos por um estranho. Ela se sentia o mais vulnerável de todos os seres. Não sabia o que dizer. E quanto mais lhe era dito, mais se calavam as suas próprias palavras.
Talvez, a sua visão limitada e peculiar - vinda de outra montanha distante - a deixasse constrangida. Tinha o seu próprio mundo, era feliz ali. Sentia-se incomodada com a presença de outros. Mas sorria. Porque sorrir é a maneira mais cortês de fazer prevalecer o seu silêncio.
E ela, que nunca fora tão habilidosa assim com as palavras ditas, que jamais tivera a coragem de gritar ao mundo com sua própria voz, ficara naquele momento ainda mais desprovida de palavras. Na mente, um turbilhão de informações. Da reforçada segurança dos lábios, nada transpassava.
Expressar-se, para ela, muitas vezes significava dar à outros o direito de julgá-la. E ela odiava julgamentos. Julgamentos são atos tão unilaterais e verossímeis para serem usados com seres humanos...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Hoje eu acordei pra dentro. Sabe? Aqueles dias que você não tá pro mundo, aqueles dias... Que você só quer não ver e não ser vista por ninguém, quer deixar os pensamentos escorrerem sem serem interrompidos por perguntas ou conversas triviais. Eu não sei se todos já acordaram assim um dia,  mas eu tenho isso com frequência.
Acordei voltada pro meu interior. Querendo debater comigo mesma. Querendo ver beleza nas pequenas coisas, que só são vistas se observadas com minúcia... No silêncio, e na solidão. Hoje eu não queria sair. Eu precisava, sabe, todos os humanos tem obrigações, uma rotina a cumprir, Deus, como isso é um saco! Mas hoje eu não queria dar bom dia pra ninguém, não queria ninguém sendo gentil, hoje eu não queria sair do meu casulo, da minha própria mente. Eu não queria minha atenção pescada por um olhar. Eu queria ficar só, mesmo estando com todo mundo. E ter a minha sensação de única mente pensante amplificada, afinal, a gente nunca pensa que os outros pensam também. Só somos capazes de ouvir os nossos próprios pensamentos e por isso temos um ponto de vista NOSSO do mundo ao redor, e da vida, e de cada mínima coisa que pode ser sentida. Cada um sente de um jeito único, é isso o que realmente diferencia as pessoas umas das outras. Hoje eu só queria sentir o mundo como eu sinto. Sem interferências.

domingo, 19 de agosto de 2012

Por que não há mais ninguém assim?


Eu aqui, da minha janela, entre um filme, uma música ou um livro, e nada, me pego levantando questões inquietantes ao universo.
Por que nós? Somos tão diferentes, tão absolutamente desiguais.
Por que nós? Por que não podemos estar um ao lado do outro. Por que não podemos nos ajudar? Nós que conhecemos tão bem um ao outro, e ainda não o suficiente, e nunca. Só nós.
Eu, que nenhum outro alguém jamais conheceu, além de nós. Por que manter afastado a coisa que mais me fazia bem em todo esse gigantesco universo? Meu bem, eu queria ser um indivíduo qualquer, que se encontra contigo nos sobe e desces do elevador do teu prédio, e queria apenas conversar com você, e que pudéssemos ter quaisquer divagações. Eu só queria poder ouvir você falar, expor suas idéias. Em todas as viagens eu poderia me manter calada, em todas elas, eu só queria te ouvir, explorar tua mente, tuas idéias... Ir profundo. Ou raso. Ou nem ir. Só ouvir. Nem que fosse uma gargalhada provocada pelo incomodo da falta do que dizer.
Eu só me sinto cansada, saturada dessas pessoas rasas. Dessas mentes pequenas. Eu me sinto sufocada por assuntos que já não suporto mais. Por mentes conflitantes. Por personalidades distorcidas. Gente que quer a todo o custo ser melhor, sendo o pior.
Você é meu refúgio quando tudo e todos nesse mundo me fazem descrer. Meu esconderijo na antiga sebe. Eu sou Sofia, e você o meu filósofo. Você é o lugar que eu chamaria de lar no mundo. É a quem recorro, mesmo sem dirigir-lhe a palavra. Você é o meu mestre, o que mantem o meu interesse pela vida. É como se todos estivessem no fundo da pelagem do coelho e apenas nós dois na extremidade, vendo toda a beleza do universo. É egoísta. É preconceituoso. Mas é como se apenas nós pudéssemos ter a visão mais bela do pico de uma montanha, e você foi quem me levou até lá.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Amar já está muito mainstream

Preciso de alguém pra encher de carinho,
de beijinho,
de mimo,
pra despejar todo o meu amor,
pra nunca causar dor.

Preciso de alguém pra olhar nos olhos,
ver o mar,
e me acalmar.

Me sentir no meu lugar no mundo.
O único em que eu desejaria estar,
de todo o universo,
meu berço.
Meu canto,
meu acalanto.

Alguém que eu aninharia no meu colo
como o filho que nunca tive.
Alguém para quem eu daria o meu melhor.
Essa tal parte de mim, que já até esqueci de como é.

O ser para o qual eu arrancaria meu coração
e deixaria em suas mãos,
caso ele decidisse me deixar.

Eu quero mais que amar.
Cansei de amar.
Eu quero dar amor!
Preciso de alguém que apenas precise de mim.

domingo, 29 de julho de 2012

Não se desespere, menina. A realidade não pode te engolir.

"às vezes tudo é tão rápido que eu me esqueço que estou ali, vivendo."
Preciso aprender a contar os passos, dar um de cada vez, preciso aprender a ter paciência. Preciso aprender a respirar (pausa), expirar (pausa). Nada é pra ontem. É tudo para se saborear, sentir o aroma, o gosto da primeira mordiscada, o da segunda, já com precedentes do sabor do elemento. O terceiro, o quarto, e assim ir mudando de opinião a cada nuance. Achando mais adocicado, mais amargo, mais azedo quem sabe. Preciso saber saborear cada partícula, cada momento, sem sair atropelando tudo, metendo os pés pelas mãos. Sem medo do gostinho rançoso que fica na boca, como o que deixa um gole antigo de café.  
É isso. Às vezes eu me complico. Me desespero no pensar. Me angustio no sentir. Me perco no raciocínio. Tropeço nos meus passos. Mal consigo respirar. É drama. Coisa de pseudo-poeta, pseudo-filósofo, pseudo-vivente que se perde nas ideologias, que não alcança o ritmo dos giros do mundo. Que se perde quando atravessa o portal do imaginário, mal consegue manter-se de pé nos territórios da realidade. Eu ainda não aprendi a viver no mundo real, essa é a verdade. Eu não sei sentir no mundo real. Eu murcho. E fujo, eu volto correndo pro meu casulo, minha carruagem de abóbora, meu boteco lilás, meu casino com jukebox tocando a trilha sonora do filme "Vivre Sa Vie", do Godard. 
Existe um momento de êxtase, precedido por um longo período de ansiedade e preparação do espírito. Então o momento de êxtase se vai, e é como se o filme continuasse, sem cenário, sem trilha sonora, sem personagens coadjuvantes, é só você e o público. Então você se perde no enredo. Eu me perco. Perco o fio  da meada, mas não deveria. Tudo continua ali, o espaço, o tempo, as possibilidades, e a mente para que se possa construir tudo novamente, do zero. E que se crie um novo cenário. Uma nova trilha sonora. E que a história se desenrole, com adaptações ou não. Mas mantendo-se a calma.

Queria que desse "certo"

Foi o dia em que a gente discutiu? Foi por conta do meu temperamento ruim e do meu alter ego explosivo e aborrecido? Foi o café que estava sem doce ou muito amargo? Foi por causa do meu nervosismo ao pedir remissão? É tudo culpa da minha personalidade dramática, com enorme propensão ao exagero?
Ou foi só por ser eu? Por rir demais quando estou nervosa. Por ser séria quando quero guardar algo pra mim. Por ter lapsos de memória toda vez que tenho a intenção de fazer alguma citação interessante ou apenas dizer algo que vá te agradar. Foi por conta de quê? Por que gosto de usar vestidos? Por que tenho enorme dificuldade em decorar nomes? Por que minha consciência sempre pesa quando jogo lixo no chão? Por que não lembro das coisas? Por que sou prolixa? Por que sempre gaguejo procurando em todo o meu singular campo lexical a palavra que mais se adeque ao que quero expressar?
É por que sou melhor escrevendo do que falando? É por conta das minhas cicatrizes? Por conta do meu humor sem graça, minha lentidão de raciocínio? É por que tenho autoconfiança na ausência dela? É por que sou inexperiente? Por que aprendi a caminhar agora? É por que gosto de mãos? Vamos lá, me diga.
É por conta da minha mania de ficar mordendo a pelezinha que se desprende do meu lábio? É por causa da minha dificuldade em ser espontânea? É por que levo tempo para me sentir confortável na presença de pessoas? Por que só consigo me expressar corretamente com certo nível de intimidade, e por que eu não vejo graça na maioria das coisas que os outros vêem? É por que uso o mesmo pingente de coração de pedra azul há anos? Por que é?
É por que eu gosto muito de literatura? Por que vivo num universo paralelo, num mundinho singular, com unidades individuais de felicidade. É porque meu universo fantástico é funesto, e porque eu adoro essas coisas pra chorar, não é?!
 É por conta da minha introspecção? Das minhas viagens e da minha volatilidade? É por que sou sensível demais? Por que sou indecisa mesmo sabendo exatamente o que eu quero? É por que tenho pudor desnecessário?
É por que no fundo no fundo, mesmo gostando de você, te acho estúpido? E por que ainda assim insisto em ouvir todas as estupidezes que você tem a me dizer? É por que tenho pensamentos paradoxais em excesso? Ou por que não temos nada em comum, afinal?!
É por que não gosto do que gostas? Por que nossos odores se diferenciam? Por que eu espero de mais? Ou por que você esperava mais?
É por que o beijo é bom? É por que sou comedida? Por que me preocupo o tempo inteiro?

É porque eu queria algo mais palpável. Eu queria solidez. Efetividade. Um olhar firme, um sentimento substancial. Um momento ébrio de pura lucidez. Mas e você? Essa é a verdadeira questão. O que você realmente quer?

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Escrevi pra ver se assim conseguia chorar, botar pra fora

Eu me sinto no chão. Não, eu não me sinto em lugar nenhum. O solo seria muito pra mim, nele eu me sentiria integrada, me sentiria fazendo parte de alguma coisa. Agora eu não me sinto nada, não me sinto integrada nem ao vazio. Eu me sinto podre. Eu me sinto só. Mais só, mais vazia, mais podre, e mais nada do que nunca. Nem mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida me senti assim.
Onde foi que eu perdi o ritmo? Onde foi que eu deixei tudo que eu acreditava? Onde foi que eu me perdi, pelo amor de Deus, eu me preciso de volta. Eu já não consigo mais assim. Onde foi, nesse terreno íngreme e disforme que dentre tantos tropeços ouve um do qual eu não consegui mais me levantar? Eu preciso voltar lá. Preciso parar de rastejar.
Eu não me vejo mais como algo pra ninguém. Eu não me vejo como ninguém. Eu... ?
Eu que sempre tive com quem contar, sempre achei que alguém, alguma alma dessas tantas que existem no mundo me amasse, agora me sinto absolutamente sem amor. Me sinto incapaz de despertar qualquer sentimento bom em alguém.
Eu não tenho ninguém com quem eu possa contar agora. Ninguém que vá me ouvir, ninguém que vá me entender.
Que solidão é essa?
Eu errei, e foram tantos erros que eu nem sei como consertar. Eu estou no lugar errado. Aleatória. Avulsa. Sozinha. E eu não consigo me adequar. Eu só queria saber onde estou errando... Era pra tudo estar perfeito, como há 3 dias atrás, e agora... E agora?

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PS. Algo que você escreve neste estado não pode sair bom, perdoem-me.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

some trip

                               

Sentados em roda, perninhas de índio, olhavam o céu, imaginavam formas nas nuvens. Riam como se nenhum dos acontecimentos da vida os pudessem atingir. Brincavam no parque, faziam contato com a natureza. Eram crianças, faziam fumaça com seu novo brinquedo. E riam. E pensavam pensamentos que se perdem com o passar do momento, fugazes, imediatos. Era a infância. Quem é que se lembra o que se pensa quando ainda não se passou da idade dos cinco?
Faziam o caminho de volta pra casa, brincavam de quem chega primeiro, corriam para não ser a mulher do padre, trapaceavam, gritavam de medo, como se um monstro pudesse se esconder em algum lugar - e podia, mas eram inocentes demais naquele momento para temer riscos reais - e riam.
Mas ao chegarem na cidade, ao pisarem no asfalto, ao serem iluminados pelas luzes dos postes, sobriedade lhes era cobrada. Voltavam à si, ou pelo menos, ao que foi feito deles. Seus passos eram sincronizados, suas bocas fechadas, eram quase máquinas. Agiam conforme lhes era requerido, agiam como adultos. E suas sombras de fato se alongavam, como se há muito tempo já tivessem deixado de ser criança. E seguiam, como a sociedade em que viviam lhes exigia... Voltavam para suas rotinas, deixavam de lado sua liberdade, prendiam-se, controlavam-se, mediam seus atos para não fazer o que tinham vontade ou o que, supostamente, não deviam. Mas enquanto andavam rumo ao que nos consome e nos devora, deliciavam-se com as lembranças de um momento incrível, que passava, e não deveria ser lembrado.

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PS. A imagem complementa o texto, embora queiram dizer coisas diferentes. Ela adiciona algo de suma importância que não foi dito.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Afluência de boas energias

São sentimentos bons em excesso, sentimentos que não tomam forma, sentimentos que não viram palavra, não viram ação. Sentimentos daqueles que ficam presos à garganta, acumulam, lotam o espaço e saem pelos olhos. Não em forma úmida, não... Já não há mais nada de ruim aqui nesse espaço, não cabe, porque é muita coisa boa, e polar não se mistura à apolar. Na verdade saem pelos olhos em forma de luz, luz brilhante que cintila ao encontrar o olhar que a faz amar. Tem tanta coisa boa presa aqui dentro, coisa boa que não tem à quem se entregar, sentimentos bons que não sabem onde podem ser despejados.
Isso às vezes agita o corpo. Inquieta a alma, uma inquietação gostosa, se é que se pode defini-la. Uma inquietação de ansiedade por momentos bons. Uma inquietação por luz, alegria, liberação de energia. A luz já não é mais suportada pelo corpo e quer se exteriorizar, quer se juntar ao chão, ao ar, as plantas, a outros corpos. A luz quer iluminar a escuridão do mundo. Quer encher de amor corações vazios. Quer fazer dançar pés cansados. Quer abrir sorrisos. Quer promover abraços. A luz quer conquistar o mundo. Quer ver belas paisagens, quer se sentir parte de um todo, se juntar ao cosmos, e voltar ainda mais reluzente, e aquietar essa alma pronta e atrasada pra viver!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Eu já disse tudo que tinha pra dizer. Eu já não tenho mais reclamações, desconsolos ou declarações à fazer. O tempo se encarregou de amenizar tudo aqui dentro. Agora eu só tenho impaciência. O tempo já mudou e apagou tantas coisas, só não quero que ele leve consigo até a última faísca...
Então venha amor, reescrever o "eu te amo" que escreveu na janela do meu corredor mas que o tempo já apagou. Venha, que a tintura nova está fresca. Vem que eu já não posso mais esperar.
Às vezes a gente sabe que não é amor. Não. Nem paixão. Às vezes não é nada.
Às vezes a gente só quer ter carinho, dar carinho, a gente só precisa se apegar. Às vezes a gente só precisa olhar pro lado e ver que tem alguém ali, sabe? 
Mas às vezes dá medo, dá medo de se acomodar de novo, dá medo de começar a gostar, dá medo de querer estar mais perto. Dá medo até de não querer largar.
Tem gente que tem o poder de preencher um momento com sua simples presença, preencher à ponto de que, ao tê-la ali, você só à tem, e não pensa em mais nada.
É assim, toda vez que ele chega, de todas as pouquíssimas vezes que chegou. Ele não tem nada de especial, não tem nada que eu goste em específico, ou que me chame atenção e que me faça amá-lo só de olhar. Eu vejo nele defeitos que abomino, e que não são superpostos por qualidades, ele não faz questão. Não é, nem quer ser o meu tipo. O meu príncipe. O dono da minha admiração. Mas tem aquele abraço que dá vontade de se abrigar pra sempre. E aquele beijo que não dá vontade de desencostar os lábios nunca mais. E meu cigarro preferido foi substituído pelo que lembra o gosto do seu beijo, porque ele está longe, e eu gosto de me deleitar em lembranças durante o chá. Lembranças são como curtas em preto e branco, particulares. Seu beijo tem gosto de tabaco, tostado. Gosto rançoso, como diria minha avó. Mas podia ter gosto de qualquer outra coisa, eu ainda iria gostar. 
Sabe, quiçá seja só carência.
E eu nem gosto dele. Mas eu adoro estar com ele, então que ele fique aqui, por perto. Porque nem toda boa história é feita de amor.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Só o fiz

O barulho de um grilo solitário
em seu cantinho solitário
em algum lugar de um mundo solitário
em um universo solitário
E eu penso no silêncio que faz.

E eu me questiono,
ele sabe o por que de sua guizalha?
Ou o faz, por puro e simples dever?
Todas as noites, sem cessar?
E o agrada cantar?
Tritinar?

A solidão de um cigarro,
uma xícara de café frio,
uma janela,
o zunido do gerador do prédio vizinho,
de um grilo,
o barulho do silêncio da cidade adormecida.
De cada luz apagada.

Canto a minha canção silenciosa,
de uma mente em descanso
que nunca pára seu guizalho.
É vazio. Amplo. Inatingível. 


A gente deve e faz, 
faz porque gosta, 
faz por puro dever. 
Todas as noites, sem cessar. 
E nos agrada?


Mas todas noites eu penso,
porque é quase calmo,
as idéias quase fluem
sem se cruzar, 
se embaraçar, 
se perder, 
sem perceber... 


Quantas vezes não pensei,
e esqueci. 
E quando deveria pensar
e pensei demais,
findei por não pensar,
só senti. 


Às vezes a gente nem sabe o que pensa.
Só o faz.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

I really thought this feeling would last for ever

But maybe, I was just feeling in the wrong way, in the wrong time...

When everything goes, with the river's way

Não era pra ser, mas eu queria que fosse, então essa é a parte estranha. Porque era, e é tão estranho querer algo que não fosse você. Aquele sentimento, era como se eu fosse aquilo, toda aquela dor era eu. E eu lutei para mantê-la, apesar de querer não sentir mais dor, eu tentava mantê-la como algo que desse sentido pra tudo que eu não encontrasse um. E agora eu me sinto... Tão sem sentido. Amar aquilo era tudo que eu conhecia, tudo em que eu pensava, tudo que eu queria, tudo que eu sonhava, era minha verdade, e minha mentira, e meu tudo, e se foi... E como? E quando? E por que motivo? Como consequência de quê? E se iria se esvair por que demorou tanto? Por que se fez meu cais? E meu martírio? Minha fé e minha descrença?
Foi como água em ebulição. Ferveu, à cem graus centígrados, sem tempo para descanso, as moléculas se agitaram, sem parar, tão veementes que tornaram-se sonoras. E ardeu, transbordou. E não parou de ferver, ferveu por todo o tempo, evaporando, molécula por molécula, até secar.
Ficou vazio. Mas mesmo sem água, permaneceu o calor.
E então, de repente, eu já queria outra coisa. E por quê? E desde quando? E eu queria mesmo? Talvez fosse só confusão... Temperatura muito alta...
Confusão por ter um coração que é feito para amar, sem ninguém para dar amor. Um buraco que suga tudo que primeiro surgir, para preencher-se.
Eu só não sei ser seca. Eu só não aprendi a ser vazia. Preciso de algo aqui, preciso querer algo. Sonhar com algo. Amar. Ferver. Borbulhar. Ebulir!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Admirável sentimento

Houveram diversos acontecimentos novos na minha vida nos últimos dias. Coisas ruins, muito ruins, sustos grandes, muito grandes. Minha rotina mudou completamente. E o que me rodeia, de certo modo, também.
Recebi uma atenção e um carinho inimaginável de pessoas queridas depois do acidente que me ocorreu. O que fortaleceu meu sentimento por muita gente. Me senti amada, de verdade, e isso é tão bom que até parece que esse foi o único sofrimento que valeu a pena de verdade na minha vida...
Mas hoje recebi uma visita especial, uma pessoa que há longa data faz parte da minha vida, e caramba... Já passamos por muita coisa juntos. Houveram momentos bons, momentos estranhos, momentos ruins, momentos péssimos, houve dor inclusive, e já ficamos um bom tempo sem nos falar também. Mas era genuíno, o que sentíamos um pelo outro. Apesar de nossa história ter envolvido muitas traições, mentiras, trapaças, e ter machucado muita gente, o que restou no final de tudo foi uma coisa linda, um amor, um carinho, restou o licor, o sumo, a melhor parte de um todo. Ficou o que era realmente bom. O elixir.
Sabe quando você sente verdade em alguém? A gente pode sentir quando alguém realmente gosta de nós. E não é interesse, e não é só simpatia, e não é fingimento. Sentimos o carinho transmitido em pequenos atos quando ele existe de verdade. Há um fluxo de coisas boas vindo da pessoa que gosta de nós, quando é verdeiro. E isso faz bem. Sem interesse, sem esperar por mais, sem egoísmo, sem nada além de um sentimento genuinamente bom, energias boas, paz.
É isso que acontece quando o Guilherme aparece, eu creio que nunca o "amei" como homem, com desejo carnal, ou qualquer coisa do tipo, ele nunca chegou a ser o "amor" da minha vida. Mas eu o amo, nós nos amamos, de uma forma diferente. É como um amor de irmão. Ele me traz alegria, paz, ele me faz sentir bem e confortável como só se sente ao lado de alguém que nutri por nós um sentimento muito bom.
Nunca pensei que seria assim um dia, vivemos muitas coisas, que não podem ser comparadas com o que vivo agora, e o que vivi com outras pessoas, mas ainda assim foi complicado, imaginei vários fins, e nunca esse. Nunca pensei que poderia me sentir tão bem em ter alguém especial assim. Alguém que sempre se importa. Alguém que sempre me quer bem. Nunca pensei que existisse tamanha paz em um sentimento.
E é isso, um amor lindo, puro. Sem interesse. Amor. No final de tudo, a melhor coisa.

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É uma postagem diferente, e meio que parece que estou escrevendo em um diário, mas eu não sabia como abordar esse assunto porque eu não penso muito sobre isso, só que eu precisa expressar esse sentimento. Escrevo para expressar coisas bonitas que existem dentro de mim, na maioria das vezes, e essa é uma coisa linda, eu não podia deixar passar, relevem a abordagem ruim e possíveis erros ortográficos, e considerem o sentimento que eu quis retratar, que é o mais importante.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Fiz as pazes com a vida

O céu está tão estrelado esta noite, uma noite magnífica... Estou cá em minha janela, como de costume, saboreando um dos meus últimos cigarros. Queria poder gravar a imagem desse céu, queria lembrá-lo para sempre, ou pelo menos, ficar aqui a admirá-lo interminavelmente. Mas esse momento, como todos os outros na vida, não vai durar muito, é lindo mas terá de acabar para dar lugar ao brilho reluzente do sol, e então virão outros, diferentes, talvez até parecidos com este, talvez não tão belos mas outros, preenchidos por outros sentimentos e terão outros gostos, outros cheiros, por fim outra eu os estará admirando com um novo olhar...
As coisas tem dado bem erradas na minha vida esses dias, mas como dizem, algumas coisas precisam dar errado para que tudo se acerte como deve ser.
Meu coração se esvazia a cada dia, me sinto tão mais leve agora. Não que tenha sido essa a leveza pela qual tanto esperei... Minha maior pretensão nunca foi deixar de amar e me tornar vazia como já fui tantas outras vezes na vida, mas sabe... É bom olhar esse céu sem ser através de olhos embaçados, sem ter um nó na garganta, sem ter um peso sobre minhas costas que eu mal possa suportar, e é bom respirar com essa leveza...
Me sinto avançar de novo em direção à um horizonte desconhecido, estou de pé, acima de tudo que tem dado errado. Estou caminhando sob os destroços.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Something good after you

É incrível como só consigo notar que estava feliz depois que o momento já está fora do meu alcance. Eu lia uma estória, quando notei.
Eu vivi algo belo recentemente. Tive dias de terna alegria, ao lado de alguém cujo qual me fazia sentir também muito à vontade, fui cativada, por todos os nossos dias agradáveis um ao lado do outro... Eu consegui mais uma vez ser quem sou. E ele sempre me fez sorrir, independente de como eu me sentia no dia, e eu o fazia rir também. Foi mútuo e belo o que tivemos, nós nos fazíamos bem sem cobrança, sem envolvimento demais, sem querer controlar um ao outro... Nós éramos livres, porém, estávamos juntos. Nunca houve exclusividade, nem brigas, nem disputas, ele era o suficiente pra mim e eu suficiente pra ele, sem ser necessário nenhum tipo de imposição. E acabou, naturalmente, faz poucas semanas, ou um mês talvez. E é incrível como a lembrança dos dias bons não incomodam... E como acabou sem parecer um fim, sem causar dor, sem uma separação cheia de traumas, sem se fazer necessário um adeus ou um "não quero mais"... Só acabou.
Por que todas as coisas não são assim, simples? Por que há coisas na vida ou pessoas que não aceitamos deixar partir nunca? Por que algumas lembranças boas doem? Por que? Por que alguns finais precisam ser tão tristes? Por que precisam existir finais como pontos e não vírgulas? E por que existem coisas que persistem em ficar quando já se passou tanto tempo, e persistem em machucar, por que elas simplesmente não passam, como tudo na vida?

Tudo é muito diferente quando você aprende o que é amar alguém...

"Os homens - disse o pequeno príncipe - embarcam nos trens, mas já não sabem mais o que procuram. Então eles se agitam, sem saber para onde ir. E isso não leva a nada..."
Eu já havia lido Antoine de Saint-Exupéry algumas outras vezes quando pequena, mas vê-se as coisas muito diferentes quando já se amou alguém, quando já se foi cativado, quando se compreende o que é o amor... "Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve..."
E então, desta vez, a linda história que sempre me arrancou lágrimas fez ainda mais sentido... E me consolou (a gente sempre se consola) rs.
"O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a ideia de nunca mais escutar aquele riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.
- Meu caro, eu quero ainda escutar o teu riso...
Mas ele me disse:
- Faz já um ano esta noite. Minha estrela estará exatamente sobre o lugar aonde cheguei no ano passado...
- Meu caro, essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela, não passa de um pesadelo, não é mesmo?
Mas ele não respondeu à minha pergunta. E disse:
- O que é importante não se vê...
- Sim, eu sei...
- É como com a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é bom, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estarão floridas."
"Já se passaram seis anos [...] Agora me conformei um pouco. Mas não completamente."
"A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar..."
Define meu dia e traduz melhor musicalmente o post anterior...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tropeços

Eu dou sempre dois passos à frente e três pra trás... É incrível mas nunca consigo me manter de pé por muito tempo, eu tropeço, levanto, e quando penso que já me equilibrei eu apenas tropeço mais uma vez :/
Eu queria me manter estável, eu queria achar forças em algum lugar pra me segurar firme, mas eu nunca encontro, só encontro mais pedras e pedras no meu caminho. Talvez eu só esteja seguindo o caminho errado, mas qual seria o certo? Eu não encontro luz em nenhum dos rumos que olho, eu só vejo escuridão. Estou sempre fazendo escolhas erradas, e até mesmo quando evito escolher, eu erro. É sempre assim, um erro atrás do outro, e todos esses erros tem como consequência a regressão. Eu não consigo mais progredir. Estou tão cansada, tão cansada de tudo.
Eu não sei em que parte eu deixei o meu pedaço imprescindível, eu não sei em que parte deixei minha consciência, a minha capacidade de ser feliz, eu não sei em que parte eu fiquei, só sei que não estou mais aqui, eu me perdi tantas vezes, em tantos lugares, que não sei mas nem como e nem onde me achar. Eu não sei sequer o que eu quero...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Eu gosto de janelas

Eu gosto de lacunas. Gosto de observar de dentro o que se passa de fora, e de observar de fora o que há por dentro.
Eu gosto de saídas de escape. Gosto de lugares em que se possa entrar, seja qual for a maneira.
Eu gosto de observar sem ser vista. E gosto de ficar admirando em silêncio.
Eu gosto do olhar afastado de quem deseja, sem poder.
Gosto de quadrados e retângulos, e dos números pares de seus lados correspondentes.
Eu gosto de descobrir o que existe do outro lado das janelas, e gosto de fechar janelas, e de ver através delas.
Gosto da visão única que se tem das janelas, essas visões que ficam marcadas em nossa memória, como um último adeus, uma última olhada.
Pode não parecer importante, e pode ser apenas mais uma das coisas que eu amo, tratando-se de você. Mas ainda assim preciso dizer, sempre amei suas janelas.

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Esse post eu dedico ao menino Regis, como prometido, demorei um pouco, mas cumpri ♥ Obrigada por me honrar com tua leitura!

talvez isso defina a minha paz

"... eu gostaria de me deitar ao teu lado, às duas da manhã, quando já não houvessem mais frequentes transeuntes à nos incomodar. Deitaríamos sob um céu estrelado e observaríamos as estrelas, uma à uma. Dividiríamos um cigarro e conversaríamos de forma agradável - não uma daquelas conversas que temos quase que por obrigação com semi-conhecidos, nas quais se dizem coisas sempre óbvias e inúteis apenas para que se abafe o incômodo do silêncio, que constrange ao invés de acolher. Mas algo íntimo o suficiente para que se partilhem palavras que fluem de uma parceria entre o cérebro e o coração, com uma facilidade quase natural - daquelas conversas, sabe, em que quando houver silêncio, ele não incomode.
Como aqui não existem muitos gramados nos aninharíamos em qualquer quadrado de concreto mesmo, e se ventasse forte nos aqueceríamos mutuamente. Poderíamos rir, refletir, dar um tempo um para o outro para filosofias íntimas - essas que se pensam com o âmago, e que tentam escapar por entre os lábios, impedidas por um sensor de segurança devido serem extraordinárias demais para que palavras sejam idôneas de transmiti-las ao mundo - e o mais importante, nos sentiríamos simples e unicamente confortáveis em nossas companhias, como se estivéssemos mais uma vez em casa, mais uma vez em nosso próprio universo paralelo."

Dedico ao Raul <3

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ich Bin Die Andere


"- Ele me pegou, me levou pra casa e eu fui sua amante durante muito tempo... Bruno, o caseiro era amante de sua mulher. Carolin só tinha 8 anos. Éramos todos muito jovens, e muito bonitos também. Havia muito amor ali.
- Pra mim isso é exploração, não amor.
- E o que é o amor?"

Há tantas formas de defini-lo com beleza, magnificência e esplendor, mas o amor não é só isso... Não é apenas a parte poética e heroica a qual nos prendemos. A-m-o-r. Depende do ponto de vista, do ponto de referência, de quem observa, de quem dá, e de quem recebe. Depende inclusive de como se quer ver. Da mesma forma que para um miserável, faminto, 100 reais seja muito dinheiro, para pessoas que gozam de grandes fortunas 100 reais é apenas esmola.
E assim é com o amor. Ele se adéqua a forma que incide. O amor pode ser confundido com tantos outros sentimentos, e mesmo assim, não deixar de ser amor. Cada um tem o seu jeito de amar, e ao mesmo tempo, sente tantos gêneros de amor... Um dia, há de se aprender que, quem sabe, todas as formas de amor sejam válidas.

P.s.: Não consegui achar o trailer legendado. Tradução do título: Uma outra mulher, é um filme alemão com roteiro de Peter Märthesheimer (2006). O enredo é um tanto quanto singular, e realmente muito bonito. Aborda assuntos não muito usuais e que causam um certo estranhamento, mas é surpreendente e nos acomete/convida à muitas reflexões. Só vivenciando o filme para sentir.


sábado, 21 de janeiro de 2012

"Não vou atrás de ninguém. Não mais. Não quero precisar de ninguém. Quero seguir livre, entende?"

Mas quem disse que consigo me livrar de toda a carga que carrego dentro de mim, faça-se o que fizer para me livrar... Ela persisti, e continua aqui.
E como fazer quando o desespero me envolve em suas garras aterrorizantes? Para onde correr pra tentar afastar essa neblina pegajosa dos meus pensamentos mais pungentes? E nos momentos em que preciso me afastar de mim, furiosamente, preciso ficar longe, longe de mim e de tudo que me acomete quando baixo a guarda?
Eu acabo caindo em braços que estão abertos para me envolver... Preciso de palavras aveludadas que me acolham antes que eu recorra as únicas coisas que me restam - as lembranças - e acabe me rendendo. Eu findo me envolvendo em outros abraços. E acabo dependente de mais alguém, pra tentar suprir essa abstinência de você. Eu tento fugir, de todas as formas, mas acabo me prendendo em uma das armadilhas dispostas em meu caminho, eu sou fraca, e preciso de ajuda para me defender de mim.
Tem dias que é tão difícil a convivência comigo mesma sem que eu me machuque. Sem enlouquecer. Preciso de alguém que apenas diga tolices que me tirem do meu caminho de perseguição à dor. Qualquer pessoa que me toque e me chame pra fora desse exílio nessa minha mente atordoada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

sem forças vitais

Eu não sei bem... Já não foi demais perder a única coisa que tinha realmente significativa importância na minha vida? Eu já aprendi a aceitar isso, a conviver com a ausência disso.  Mas preciso mesmo ter que enfrentar tantas almas sem caráter se envolvendo em minha vida? E aceitar tantas desilusões com pessoas que um dia tomei como grandes exemplos à seguir? Estou tão cansada de ser mal interpretada. De não ser levada à sério. Tem gente nesse mundo que parece só querer ver o mal dos outros. Eu paro e observo, e quem se empenha em fazer algo que torne melhor o dia de alguém aqui? Vocês são cruéis, são estranhos, vocês me fazem pensar que tudo isso que vocês fazem é normal. MAS NÃO É. Eu sei lá o que vocês querem. Mas depois de perder, aceitar minha derrota, ter que conhecer todos vocês, ter que me enojar com tudo isso, e desistir de sonhos bobos que eu cativava, eu só quero um pouco de paz.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Não sei como estou...

"E aí, como vai?" Eu perguntava à mim mesma em frente ao espelho. E caindo automaticamente para a caixinha de perguntas sem respostas, esta mesma se silenciava.
Já era verão, mas desde que o novo ano ingressara eu não me recordava de ver o sol. Tempestades de verão, isso era comum na minha cidade, mas eu também não me recordava se isso costumava se prolongar tanto.
Janeiro, um novo ano. Que não tinha nada de tão novo assim, as coisas continuavam quase iguais, só que molhadas. E eu, mais indiferente a cada nascer do sol. Tenho desconfiado que fiquei mesmo em um passado remoto. Não que eu acredite nessa superstição de ano novo, recomeço, vida nova, grandes mudanças... Pra mim intervalos são fins de ciclos, e os ciclos da vida das pessoas não tem data pra começar e acabar, e não se comemoram com votos de esperança, abraços e champagne. Então pra mim, 2012 seria uma continuação estranha de 2011.
Desconfiei de ficar no passado, mas na verdade, eu já havia ficado em partes há muito tempo, só que agora desconfio que fiquei por inteiro... Tenho estado meio distante, até de mim. E eu já não sei mais como me sinto, nem sei se sinto.
Há muito não escrevo, e nem penso em como estou, e sobre o que sinto. Estou esperando pelo fim de cada dia, ansiosa pelo fim dos próximos. Mas não tem sido tão ruim assim.
Sempre que me permito viajo, daqui mesmo desta cama que lhos escrevo, para a Itália, Veneza, sinto o cheiro imaginário de um lugar úmido e ensolarado, viajo para o corpo de Marlena, e amo um outro você. E essa é apenas uma de minhas agradáveis e aliviantes viagens pra longe dessa realidade. Já fui para mais distante, já chorei sentindo as dores de outras pessoas. E me distraí de mim. E fiquei pequeninha aqui dentro, e desaprendi sobre a minha própria dor, e fui feliz por outras pessoas.
Sabe, às vezes se deixar de lado é um ótimo remédio.