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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Chuva que parece afago

De novo você está só. Sozinha.
Uma pessoa que te lembra um pouco você mesma passa, para, te pede um cigarro, te dedica um sorriso de gratidão e vai embora.
Outra passa, um troque de olhares, efêmeros como as passadas rápidas de alguém que tem pressa numa vida apressada para uma inconcludência, rumo a uma nova pressa que leva sumariamente ao nada.
Mais alguém, e passa...
Ali, vem mais um, te rouba um carinho. Divide contigo porções moderadas de prazer. De ímpeto te faz perder o fôlego, que já lhe falta. Te deixa dormente. Faz estremecer tua carne. Te ocupa um interstício de tempo, e o pensamento. E como fosse ficar, e te dar o que nem se procura ainda mas se quer certamente, passa. E você se vê só, de novo. Um pedaço vazio de papel branco com coisas escritas no verso. Só você e o cigarro que queima tão rápido quanto esses instantes que propõem compor sua vida.
Um trago, o desejo de retê-lo, um sopro e ele se desfez, e foi, e não é mais nada senão uma ideia vaga de que um dia possa ter sido. Como esta ideia. Este pensamento que jorra com tamanha força e fugacidade, como que querendo extravasar esse espaço, hernia, te obrigando a arrancá-lo e lançá-lo em algum lugar. E cessa.
Então é só você e a chuva, tênue, silenciosa, tão delicada que ao tocar sua face parece acariciar, como uma resposta à tudo para não ter pressa. Pra deixar passar. Deixar tocar. Deixar molhar.
E ir embora.


                                      laisser passer

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