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quinta-feira, 6 de março de 2014

As coisas andam tão incertas que as palavras não vêm, e se vêm elas nunca mais souberam dizer o que se passa, nem sequer sabem mais o que querem dizer.
Talvez seja isso, talvez o pote esteja tão dessecado que as palavras que saem são brados incompreensíveis e que escapam tão fugazes quanto a disposição revoluta das coisas. Se nesse momento eu pudesse citar algo estático este algo seria a confusão, essa foi a única que se instalou e pôs pra fora, há tempos, toda a ideia do que pudesse ser paz. E ainda por dentro só tem o oco. As coisas foram e vieram tão rápidas, tão coléricas e frequentes que levaram tudo embora, os miolos, as entranhas, as ideias, as palavras... A busca por essas últimas é diária, embora preguiçosa e desconfiada, pois há o medo de buscar e encontrar algo - não se sabe o quê -  que se tem ignorado. Tenho ignorado a mim mesma (pode ter sido a única forma de me manter sã). Mas o que são então essas palavras distorcidas que saem pela minha boca através desse rugido? Num momento de total perturbação, num momento extremo em que são exigidas de mim as atitudes mais sábias e amigas, as palavras mais brandas e conselheirescas, as atitudes e os olhares mais amorosos, é isso o que me resta? É isso o que eu sou afinal? Por que eu não consigo sentir nada? Por que eu me sinto tão vazia quanto uma casa tenebrosa em que ninguém quer se abrigar? Uma casca? Um casulo que já foi abandonado? Por que me sinto tão seca quanto um choro que não tem motivo de ser? Por que me sinto mais vazia que um daqueles abraços entre pessoas cheias de mágoas sonegadas? Mais deserta que uma cama onde já se amaram dois amantes, mais estéril que um coração que não sabe amar, mais vaga, mais ríspida, mais... mais nada, menos. Menos do que sempre fui. Povoada por um vazio tão grande que eu nem sei definir por sempre ter em mente coisas cheias. Eu só queria mesmo era me empoleirar em um canto, num auto-abraço, durante horas e lutar contra esse vazio ao qual estou tão apegada.