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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Quintessência

Enviada: 23:00 "Eu fiz café. Você quer? E tenho cookies de chocolate."
"Eu quero. Quero você também, vem pra cá."
"Eu vou. Fiz pouco café porque todos aqui já estão dormindo e não teria que partilhar com ninguém, mas divido com você. Ficou bom, rs. E não irei te atrapalhar, ficarei quietinha na sua cama lendo meu livro enquanto você termina, prometo."
"Ah, você vai ficar quietinha? Não quero você quietinha não. Pode atrapalhar..."
"Bem... então deixa o livro pra lá."

Enquanto dizia tais coisas eu construía a cena em minha mente involuntariamente, e (como uma falha, que não fui capaz de reparar à tempo) a cama em que eu estava sentada era a sua. E o café que eu tomava durante a distração da leitura, era à espera de que você terminasse seu trabalho. Eu esperava quieta, por estar em paz porque esperava te tendo ao alcance dos meus olhos, logo à minha frente, onde vez ou outra te fitava, com olhos de amor e desejo. E o quarto, o quarto em que eu me encontrava era o teu, todas as coisas, dispostas meticulosamente da mesma maneira que eu conseguia me lembrar. E o livro, o livro que eu deixava de lado, era por você...

Tem-se tornado quase um prazer, essa dor.

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"Foi um milagre - mais que um milagre - quando encontrei você, Melanie. Agorinha mesmo, se me dessem a escolha entre ter o mundo de volta e você, não seria capaz de abrir mão de você. De salvar cinco milhões de vidas."
"Isso é errado."
"Muito errado, mas verdadeiro."


MEYER, Stephenie

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

everything will be alright


Como é estranho quando está tudo bem. Quando o vazio permanece, oco, mas sem latejar dor e saudade. Sem precipitações lacrimais. Sem vontade intensa de sair correndo, jogar tudo pro alto, voltar pro passado, fugir pro teu lado. Quando tudo se passa sossegado, um dia de quase paz. O estranho de não sentir vontade de chorar com coisas que simplesmente se ligam à você de maneira ininteligível. Uma vontade benevolente de encarar a vida, a minha vida, essa realidade. Uma vontade de me esforçar pra conseguir progredir, para conquistar independência. Essa noite, tenho desejo de crescer.
E a estranheza de terminar um dia fazendo tudo o que eu queria fazer. Tenho sido tão corajosa, tenho arriscado grandes aventuras, tenho me divertido tanto... Não tenho mais ignorado meus desejos loucos, eu os realizo. Todos eles. É como se eu estivesse vivendo, uma vida que não é a minha, não é o que escolhi nem o que acho que escolheria, mas vivendo, extraordinariamente. Não senti ausências no decorrer do dia, às vezes até parecia suficiente, até demais pra mim... Mas no fim do dia, eu o noto. Ele ainda está aqui. E ele se confirma com o silêncio. Mas é como se fosse pleno, meu vazio.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É bom ser menina, na varanda...


Faz muito frio agora, lá fora. Daqui eu vejo tantas luzes piscando, a noite é tão linda...
Houve tempos em que daqui, às únicas luzes que eu via eram as das estrelas, e o frio que geava, era aqui dentro, de mim. Mas eu me acostumei a conviver com esse frio que gela no vazio do meu peito, e eu me acomodei a não ter ninguém pra aquecer. A saudade que eu sinto agora é amena, e o gosto da dor se confunde com tabaco.
Faltam só três dias, e ainda não sei se me manterei no silêncio de me manter distante, só a imaginar...
Pisca-piscas alegram as outras casas, e no céu de agora não há estrelas, não tem lua, não brilha, não se afasta, não dói.
Já foram um, dois ou três cigarros, eu prometi parar de fumar. Eu não sei me manter distante. Eu fico perto, de longe. Eu gosto de te observar daqui, é mais seguro. E eu convivo com as migalhas que tenho; as concilio todas e alimento um amor bem grande, bem maior que eu.
A vida é complexa demais, e eu já não tenho mais conclusões pra tirar. "Deixa a vida pra lá." No fundo eu vou sendo feliz por poder esperar.
Eu jurei mudar muitas coisas, e eu me farei cumprir.
Quero voltar a ser eu mesma, às vezes até eu sinto falta de mim, até de mim. Quero voltar a rir com os nenês, com os cachorros, com meus avós, quero ver de novo o encanto da vida com inocência, mesmo o tendo perdido durante tanto tempo. Quero ter paz quando estiver longe. Quero saber dizer não. Quero reaprender a evitar. Quero saber sofrer em silêncio. Quero guardar as palavras.
Eu vou deixar pra trás tudo que me faz mal. Eu vou guardar tudo que aprendi. Eu vou voltar, vou fazer do jeito certo, vou ser forte de verdade. Errar cansa. Errar sabendo que se está errando, é tolice. Cansei de ser tola.
Quero voltar pro meu mundo, e mesmo que seja solitário, quero saber que estou fazendo o menos errado possível fazendo do meu jeito, quero saber onde estou pisando, quero não sentir culpa, quero continuar amando.
"O mundo balança, sem descansar."
Pessoas esquecidas em seu próprio mundo dão menos passos em falso, se machucam menos.
Eu gosto de ser o que sou. Pra variar.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Nota ao leitor

Alguns textos aqui, embora relatem fatos do presente, se encontrarão escritos no passado.
Escrevo-os assim, muitas vezes, porque sei que meus sentimentos são efêmeros, e ultimamente tenho oscilado tão rápido de humor, que ao materializá-los, simultaneamente, eles vão deixando de existir.

Esses dias em que o desejo de te ter de volta é mais forte que a chuva, dias de chuva forte

Chovia forte. Eu estava encharcada, mas não me importava. Eu nunca fui desse tipo de gente que prefere esperar a chuva forte passar para enfrentar seu caminho, eu sou imediatista, tenho pressa, mas não medo de me  molhar. E de fato, eu não me importava com o frio que estava sentindo, o único sentimento que me fazia tremer era o desejo de ter você ali comigo. Queria segurar a sua mão, queria aquecer as minhas em você. Eu queria mesmo era reconhecer os teus lábios, sentir mais uma vez a tua pele, molhada. Queria que você enxugasse o meu corpo depois daquela chuva.
Me agradava que estivesse chovendo em mim, assim ninguém saberia distinguir as lágrimas, da chuva. Assim, ninguém saberia que aquelas gotas em minha face não vinham do céu, e sim do meu coração.
Eu não queria voltar para casa, não queria ter que enfrentar a minha realidade. Eu não queria ter que secar o corpo que eu só queria que você secasse. Eu não queria ver ninguém, eu nem sequer tinha alguém.
Eu queria ficar mesmo só, ali, de baixo daquela chuva, no frio. Só eu e aquela água que lavava meu corpo de todo toque que não fora o seu. Eu não queria de modo algum ouvir o meu próprio desespero. Preferia ficar ali, ouvindo os pingos que vinham do céu colidir em minha pele ou no chão. Por fim encontrei um lugar coberto, acendi meu último cigarro, e fiquei ali, mantendo meu rosto molhado...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Transbordando


Hoje eu estou com uma vontade insuportável, incontrolável, uma vontade que não cabe mais em mim de viver.
Isso é tão incrível, e ao mesmo tempo tão angustiante.
Porque estou presa em mim. Estou presa à minha realidade. Estou presa às regras que me estabeleceram.
Eu nunca havia notado antes, mas nós vivemos todos encarcerados, fazendo todos os dias as mesmas coisas, como máquinas. E as vontades que gritam em nossas almas, elas são fortemente reprimidas.
Eu preciso sair, preciso sentir algo novo, preciso sentir o cheiro de um lugar que nunca fui. Preciso assistir à um filme inédito em um lugar distante pra ter aquela sensação boa do desconhecido, do nunca vivido, de viver.
Eu preciso de liberdade, meu corpo clama por isso, minh'alma se debate e tenta sair, tenta alcançar a vida.
Estou cansada de ficar do lado interno da janela, eu quero ser a paisagem que sempre admirei, eu quero estar de fora, eu quero protagonizar a minha vida, eu estou tentando ser atuante.