Vou aproveitar o gosto
no fundo da minha língua,
reincidente em minhas papilas,
vou aproveitar o cheiro tão
singular, reconhecível por
mim como o odor da caça
nas narinas do caçador, que
ficou na última roupa
que usei pra te encontrar.
Vou aproveitar o riso, o mais forte
o mais gostoso de todos eles.
Vou aproveitar a sensação de
pele
Os arrepios.
Vou aproveitar o suor pegajoso
no meu busto.
Vou aproveitar cada dia gasto
cada filme visto,
e os não vistos
e o cheiro úmido da mata
no caminho pra tua casa.
Vou aproveitar as ruas calmas
da tua cidade, sempre vazias
que pareciam ser cenário de
um filme de suspense, dos mais tediosos.
O vento que entrava pela janela.
Vou aproveitar o tempo
que não existiu,
não importa quantas vezes eu perguntasse
pelas horas.
A minha imagem irritante
que se repetia
no espelho, logo na entrada,
me questionando
"por que diabos você está aqui
de novo?"
Vou aproveitar os teus
olhares, indubitavelmente
intransponíveis
olhares que sempre me barraram,
que eu nunca os soube interpretar.
E o não.
Que nunca fora um sim. Mas sim,
incerteza.
Pra tecer o meu poema.
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