Vez ou outra acontece de um vazio imenso me acometer. Um vento gélido soprando no peito, que parece ser feito só de buracos, e dá uma sensação de que aquela ausência desmedida vai me engolir por inteiro, e as mãos suam frio. Os braços se unem em um auto-abraço, tentando diminuir o tamanho do buraco que arde, e os olhos varrem os arredores buscando um algo-que-não-se-sabe-o-quê-ao-certo.
Sabe, desvendei que isso tudo é falta de uma coisa. E que quase tudo ao meu redor é falta de amor.
Hoje me despedi de alguns primos pequenos, que vieram aguardar o nascimento de seu novo irmão em minha casa. Nos últimos dois dias eles trouxeram uma certa alegria aqui pra dentro desse lugar vazio, silencioso e quase inabitado que é o meu próprio lar. Então, hoje, seus pais os vieram buscar, com o novo pupilo, ainda incapaz de desgrudar as pálpebras... A coisa mais angelical e inocente, nos múltiplos sentidos da palavra. Uma pureza que aflora na pele, tão puro e imaculado que dá até medo de tocar.
E ver aquela família ali, bem na minha frente, com laços tão bem estabelecidos de amor. Com aquela proximidade tão grande, aquela vontade tão congruente de estarem perto, de se olharem, cuidarem-se. Amarem-se, sem medida, sem medo. Aquele amor, tão autêntico, tão expresso, tão óbvio que é quase dito indestrutível, imutável e indelével... Me confrontando, me encarando, me pondo às faces que eu não tenho nada daquilo... Que nunca cheguei perto de estar perto de ter algo sequer parecido. Doeu. Mas não de inveja, jamais. Doeu essa dor do vazio. A dor que dá de voltar pra casa depois de um dia bom. A dor da saudade do que nunca foi. Doeu sereno. Doeu bonito, porque aquele amor, aquela cena de uma família comemorando a chegada de mais um membro para amar e ser amado, jamais poderia causar outra sensação que não a de beleza incomensurável.
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