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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Clandestina

Acordei meio clandestina. Meio descompassada, meio fora do tom.
Abri os meus olhos, senti-os tão meus, tão dependentes de mim. Quis voltar a dormir, dormi. Estava atrasada, mas é como se não estivesse.
Levantei-me, andei pela casa, rodopiei, ninguém. Então eu ecoava ali naquele labirinto vazio. Olhei pra fora, céu cinzento em pleno verão. Não era eu. Senti vontade de puxar toda aquela camada poeirenta e seca de ar pra dentro dos pulmões, consumir aquele ambiente externo, tornar-me livre. Sair correndo nua ali, sem carregar nada, sem sentir que deixei nada pra trás por não haver onde carregar nada mais além de mim, e correr, correr, sem rumo, correr até onde eu pudesse, sem pretensão voltar, exatamente por não ter pra onde voltar. Teria a liberdade presa dentro de mim se atraindo por tudo que pudesse ser também, liberdade.

Mas ela era mais forte do que eu, fechei a janela.

Pensei no que deveria fazer no dia de hoje, e como se todo o meu corpo se recusasse fortemente, como ação de auto-defesa, achei que não... Que EU não devesse fazer tudo aquilo. Que aquilo não me pertencia, aqueles horários, aquela rotina, aqueles deveres, até aqueles hábitos que eu tomara por meus, eles eram de outrem. Aquilo não era eu. Estive sendo usurpada. Há outro alguém vivendo por mim em meu lugar.

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