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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

saída do elevador

Ela não aceitava que estivesse vivendo aquele momento. Estar ali, defronte à pessoa que mais amara em toda a sua vida, e não conseguir ter forças para sentir exatamente naquele instante mais que um mister de tristeza, rancor, vergonha e precipitações de choro. Ela mal podia se mover. E não se perdoava por não encontrar mais forças para vencer o orgulho e agir conforme mandava o sentimento que a possuía. Ela nunca se perdoou por não tê-lo abraçado naquele momento, que apesar de tudo e que acima de qualquer coisa o tivesse dado seu último abraço, e o melhor de sua vida. Mesmo que fosse pesado, pesado de mágoa, tristeza, e dor. Tudo isso seria para ela apenas conseqüência do peso real daquele abraço, o amor que sentia.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

leviano;


Uma porção de pequenas coisas, irreconhecíveis perante o coração, para tentar preencher os vazios que a vida te impõe.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

uma criança com o meu olhar

Posso me ver naquela menina,
Enxergo-me, límpida, ao olhá-la.
É como se possuíssemos almas substancialmente parecidas;

Ou talvez ela apenas viva uma vida que eu queria,
Ou queira;
Ou ela viva uma vida que, era, a minha.

Eu a vejo com um amor,
Um amor que eu queria.
Ou queira.
Ou tivesse conhecido.

Ela é tão inocente, tão pura de coração.
Eu vejo através da janela de sua alma.
Eu me vejo naquela menina.

Olho aquela linda barriga,
Que abriga;
Uma prova do amor.

Me vejo em cada cachinho daqueles cabelos.
E me vejo naquela verdade de ser;
No ser o que se é.
Em assumir-se.

Vejo-me naquela alegria que ela tem de viver;
Quimera,
Aquela que um dia houve em mim.

Ela carrega no sorriso,
E na despreocupação de ser,
A felicidade que ela tem.
A felicidade que preenche seu coração.

Ela vai ter uma criança.
Ela é uma criança.
Ela, é amada.


                                                                                                                                   "Para minha menina 26"

entre pitadas de cigarro

Viver: uma busca desesperada e perene por encurtar a vida. Essa existência esgotante, e vazia. Sem um sentido passível. Sem uma possível compreensão.
Tudo está muito turbulento, de fato, tudo é. Mas nenhuma destas turbulências me afetam realmente. Minhas mãos estão frias, mas o meu rosto está quente. Há lágrimas, mas essas lágrimas não são sinceras. Meu coração não às reconhece.
Essas turbulências, esses sustos, essas coisas que dão errado sem aviso prévio ou motivo plausível. Nada disso acelera meu coração, nada mais agita minha alma. Torpor corre em minhas veias, na verdade, caminha lentamente.
Apatia é o meu novo nome. Seco minhas lágrimas e estou recomposta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

reflexos de um coração arrefecido;

Como desejei que aquelas mãos frias que segurei pela última vez não fossem as suas... Como eu quis ter me enganado, e por acidente ter segurado mãos erradas. Naquele momento desejei tanto que àquelas mãos frias que segurei fossem mãos de um outro qualquer, de um transeunte na rua, de um desconhecido sentado no banco ao lado... E então você diria baixinho ao meu ouvido "Amor, solte a mão deste rapaz desconhecido, se não nos atrasaremos!" e aí as mãos geladas teriam sido apenas um efêmero pesadelo - daqueles que se tem mesmo estando acordado - e eu olharia nos seus olhos, sorriria, inenarravelmente contente por ter me confundido. E você envolveria então minhas mãos, trêmulas do susto levado, nas suas, sempre aquecidas e simétricas às minhas. E me levaria para casa segura, inteira.
...
Mas aquelas mãos frias não deveriam ter sido as tuas. Nunca as tuas.

domingo, 16 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Clube da Mafalda

fluxo de consciência


Hoje, em uma conversa totalmente aleatória, em uma tentativa vã de ocupar a minha mente com alguma outra pessoa dessas que tenho conhecido, e que não me valem um terço do que perdi, eu ouvi algo. Foi banal, um discurso trivial de mais um que tenta ser diferente… Mas me fez refletir.
Refletir sobre coisas que tornei veracidade incontestável em minha vida. E sabe, de fato, às vezes em nossas vidas escolhemos as coisas erradas para acreditar…
É como crer em algo, quando se é criança, inocente, e descobrir algum tempo depois que mesmo que aquilo tenha feito muito sentido durante algum tempo, e que todos tenham feito de tudo para maquiar aquela mentira como verdade, de maneira quase que exímia, tudo não passou de uma mentira… Que queriam te fazer acreditar, e você escolheu acreditar.
Um dia, não mais tão criança, mas certamente ainda tão inocente quanto, eu escolhi acreditar em alguém. Escolhi acreditar em palavras bonitas e bem articuladas. Escolhi acreditar em um sentimento descrito, e para mim, tudo fazia muito sentido em tal descrição. Eu nunca havia conhecido ninguém tão bom, ninguém que se dedicasse tanto à mim, ninguém que me parecesse tão insigne, tão diferente, ninguém que me agradasse em todos os aspectos daquela maneira. Então acreditei, cada dia mais, acreditei como acredito nas coisas que posso ver e tocar, acreditei ao ponto de colocar tal sentimento como um axioma em minha vida, que por mais que eu dissesse não acreditar eu não podia negar à mim mesma que acreditava naquilo com todas as forças da minha vil existência. Acreditei ao ponto de torná-lo parte de mim, em retribuição. 
Mas eu já havia, noutras eras, experimentado diferentes sentimentos, havia experimentado o encantamento, a paixão, o envolver-se, o desejar… Não que fosse de todos os seres o mais experiente, mas certamente eu já sabia diferir o que eu mesma sentia, já sabia diferir a paixão do amor. E enquanto eu não o senti, não o fingi, jamais. E você o sabe. 
Mas aquela pessoa, tão boa, tão dócil, insigne… Não tinha precedentes. Não sabia o que seria se apaixonar, logo não saberia de modo algum diferir a paixão que sentiu, do amor… mas não o culpo, nem sequer sabe ainda o que é o amor…
Somos responsáveis por nossas escolhas… somos responsáveis pelo que escolhemos acreditar. A culpa é toda minha.

ausência de tudo, abesbinado


Hoje eu queria tanto encontrar alguém. Queria preencher, nem que fosse momentaneamente, esse vácuo que existe em mim com uma boa conversa, e me sentir bem. Eu queria mudar o foco e encontrar novamente pessoas com conteúdo, pessoas que não pensassem apenas em coisas fúteis e supérfluas. Queria falar, mas não apenas uma conversa boba, eu queria falar com pessoas que me olhassem nos olhos, uma conversa de alma, algo que me trouxesse paz, além de tudo.
Eu queria encontrar com alguém agora, alguém que eu tivesse realmente vontade de ver, e de permanecer ali, lado a lado.
Poderíamos flanar, andar por aí, sem rumo apenas. Ou poderíamos também sentarmo-nos em uma praça qualquer, conversaríamos sobre a vida… Metafísica, abstração, falaríamos do que é indelével, do que existe e não se pode ver nem tocar, falaríamos sobre o elixir da vida, sobre a saudade, sobre a dor, e a felicidade, e poderíamos então ficar em silêncio, conversar através de olhares e aprender tudo que o silêncio pode nos ensinar…
Eu queria tanto voltar para casa.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011





Eu sempre gostei de observar esses tocos de cigarro queimando. Como os restos de um amor. Ambos se consomem aos poucos, queimam vagarosamente. O vento se encarrega de espalhar a fumaça, levando-a para algum lugar distante. Pedaços morrem, se desfazem, mas a chama continua a consumi-lo, ele vai diminuindo. Se gastando. Até que sozinho, se apague, e você precise de outro para satisfazer as suas necessidades...
E há quem jogue fora, antes que chegue ao fim.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

noticiário;

Passava na tv uma reportagem qualquer, eu nem sequer assistia, mas virei-me mecanicamente no instante em que relatavam um acidente com um "trem" (mas de fato, era um bonde).
- Que bonito! Um tremzinho. Eu não sabia que existiam trens aqui!
Disse zombando, logicamente que estava ciente da existência de tal meio de transporte no meu país, apesar de incomum, mas zombava meu próprio desgosto por morar em um lugar que nunca me pareceu histórico, interessante e encantador o suficiente.
- Agora não existe mais. Você descobriu muito tarde!
Minha mãe falou. Apenas um comentário, descomprometido. Como quem prosseguia com o ar brincalhão e zombatório da "conversa".
Era sempre assim. Eu soltava, sem sequer pensar, um comentário sobre uma coisa aleatória, sem um motivo qualquer, apenas para fingir que pensava em outras coisas e que me interessava por outros assuntos. Mas eu sempre terminava, invariavelmente, de volta ao princípio. Em meu único pensamento. Era quase uma doença. Uma quase loucura. Fixação.
Ela, com esse comentário inocente sobre o meu descobrimento tardio do encantador tremzinho, fez-me refletir sobre tudo o que eu havia descoberto fora de tempo, tarde demais, protelei, adiei, e quando já não havia mais como, ignorei e tentei disfarçar... E quando vi era simplesmente tarde demais. Depois demais. Já não havia chance. Já não havia voz. Já não haviam forças, todas já haviam se esgotado em lágrimas dolorosas do calar-se por não ter mais à quem dirigir a palavra.
Eu apenas queria ter dito, enquanto era tempo, o quanto te amei.