Todos os dias eu acordo me sentindo um alguém novo, às vezes só em parte, às vezes quase que por inteiro. Quando volto meu olhar para o passado, eu me vejo com olhos infantis e puros que projetavam esse futuro-agora como uma outra encarnaçao, como se com o passar do tempo eu fosse saindo de casulos e renascendo a cada tempo como uma nova pessoa. E de certo modo foi isso. Foi tão próximo de ser, ainda que não tenha sido.
Todos os dias eu me sinto uma pessoa diferente, reitero, é verdade. Por mais que eu tente não me sentir tão alheia a mim, eu sempre sinto diferente as coisas que me interceptam pelo caminho. Sempre sinto como se tivesse a capacidade sensorial de milhares de seres enquanto sou um só. Todos temos essa capacidade? Essa capacidade de renovar nossa habilidade de sentir como renovamos nossas células epiteliais? Não sei, mas parece que esse dom me foi dado.
Todavia, nessa minha transmutação progressiva e diária parece que alguma parte, como um tumor, sempre permaneceu ali, imutável, no mesmo lugar: um nódulo, algo que me ligava àquele meu eu tão diferente de mim. Tem sempre uma ínfima parte que é secular, um pedaço latente que não me deixa prosseguir, é como se eu estivesse para sempre ligada ao meu passado, e o meu eu futuro estará sempre ligado com o meu eu pulsante agora, uma ligação estranha. Essa ligação faz parecer que tudo seguia uma linearidade e que houveram momentos vividos por uma mesma pessoa, mas isso é ilusório! Eram todas pessoas diferentes. E por mais que eu me conscientize disso, algo ainda me atrapalha a seguir... Seguir como se eu fosse cão sem dono, como se eu fosse espírito livre. Parece que eu estou sempre amarrada a algo, estou sempre farejando o caminho de volta para casa, mas que casa?
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