Às vezes era como se fosse quem afoga,
às vezes era como se fosse a própria vaga do oceano.
às vezes era como se fosse a própria vaga do oceano.
Aquela manhã era como se um dilúvio a tivesse invadido, e em
meio às intempéries, ondas enormes quebravam na costa de seus pensamentos
fazendo aquele barulho aprazível, ainda que brutal. Confusa ainda, sem saber-se
acordada ou sonhando ela tateava em busca de algo concreto em que pudesse
esboçar a profusão de pensamentos que se debatiam dentro dela, ela queria uma
garantia de que se lembraria daquilo, não era a primeira vez que lhe ocorria,
mas os pensamentos eram muitos, eram vagas!, e vagueavam, densos, agitados, indômitos,
não faziam fila, não esperavam sua vez, e iam logo montado um sobre o outro, integrando-se caoticamente,
perpassando-se, eles jorravam violentamente e suas emoções acompanhavam-nos.
Mas rapidamente também iam-se, a mente se esvaziava e restavam-lhe dúvidas
enormes: o que era tudo aquilo? Sonho? Não,
não eram sonhos, sonhos não tinham aquela forma, aquela força, mas talvez fosse algum tipo diferente de sonho. E o que queriam dizer, afinal? A memória ia se
esvaziando pouco a pouco, como uma maré que baixa... Já não sabia mais. Que
horas eram?!, de súbito se questionou, ainda nem nascera o sol e ela já estava
travando aquela batalha consigo mesma (o mar nunca dorme!), melhor mesmo era
levantar-se, pensou, deixar que a maré se acalme por si só e ir ter com suas
obrigações, o que a esperava a distraía de toda e qualquer reverberação de
alma.
E calando-se,
foi.