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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

In certeza

Distraída demais pra ser cientista, decidi optar pela escrita. Eu a escolhi, acho. O que não significa que também fui escolhida por ela, a recíproca não é uma constante em minha vida. O meu problema talvez, e grande solução, seja a incerteza. Tudo pra mim é incerto. Tenho dois olhos, e parece que cada um deles, solitariamente, vê o mundo à sua maneira. Não sei se fui criada pra ver amplamente ou pontualmente, então fico no incerto. Meio vasto, meio nuclear. Vejo claro a liberdade, e também se ilumina a ideia de uma vida simples: marido no sofá, filhos correndo pela sala de jantar, e mulher preparando um agrado para todos na cozinha. Tem-se certamente uma beleza nisso sim, afinal, existe amor em tudo. O que não consegui explicar ainda foi essa minha devoção às coisas singelas, desfalecentes, fracas... Me emociono com velas acesas, luz do fim de tarde adentrando a janela do banheiro e gotas d’água se chocando contra a minha pele e ricocheteando em gotículas, quase virando vapor, formando um arco-íris no ar úmido, ah, esses momentos! Mas também tem as teias de aranha, as pétalas, os tecidos que se rasgam facilmente. Peles delicadas, pessoas frágeis. A fragilidade. Das pessoas, do tempo, das verdades, das certezas, do amor... Mas então o grande paradoxo reside nisso, nisso tudo e em mim, claro. Que vendo com dois olhos discordantes passei a ver meio torto. O que me amedronta nessas afirmações, teorias, decisões e escolhas, é isso. Passei quase 2 décadas tentando desconstruir todas as crenças que nos são legadas - a todos nós, não há como fugir - e então, tudo que menos quero agora, pode parecer lógico, é não construir mais nenhuma. Coisa que tenho pavor são dogmas. Mas aí está a dúvida que me atormenta: e alguém vive sem nenhuma certeza?

sábado, 7 de dezembro de 2013

Engraçado como você está sempre pronto para me arrancar toda a pose, toda a pretensão e esbofetar minha cara, sem premissas. Mas as melhores pessoas são essas, não são? As que doem profundo. As que mordem forte, pra deixar a marca, pra levar tudo o que as pertence no mundo. As melhores pessoas são essas sim, as que te fazem chorar sorrindo. Porque elas te machucam como machuca o filho que morde o seio da mãe sedento pelo leite que não sai. É. Essas pessoas buscam. Todas nós buscamos. E às vezes alguns seios não conseguem alimentar a nossa fome. E dói não ter o que oferecer para os convidados quando eles chegam na casa que você arrumou tão bem para recebê-los. Mas eles tem é fome. É fome que eles tem. É fome que você tem. E só o que eu tenho pra te oferecer é um apetite ainda maior.