De novo você está só. Sozinha.
Uma pessoa que te lembra um pouco você mesma passa, para, te pede um cigarro, te dedica um sorriso de gratidão e vai embora.
Outra passa, um troque de olhares, efêmeros como as passadas rápidas de alguém que tem pressa numa vida apressada para uma inconcludência, rumo a uma nova pressa que leva sumariamente ao nada.
Mais alguém, e passa...
Ali, vem mais um, te rouba um carinho. Divide contigo porções moderadas de prazer. De ímpeto te faz perder o fôlego, que já lhe falta. Te deixa dormente. Faz estremecer tua carne. Te ocupa um interstício de tempo, e o pensamento. E como fosse ficar, e te dar o que nem se procura ainda mas se quer certamente, passa. E você se vê só, de novo. Um pedaço vazio de papel branco com coisas escritas no verso. Só você e o cigarro que queima tão rápido quanto esses instantes que propõem compor sua vida.
Um trago, o desejo de retê-lo, um sopro e ele se desfez, e foi, e não é mais nada senão uma ideia vaga de que um dia possa ter sido. Como esta ideia. Este pensamento que jorra com tamanha força e fugacidade, como que querendo extravasar esse espaço, hernia, te obrigando a arrancá-lo e lançá-lo em algum lugar. E cessa.
Então é só você e a chuva, tênue, silenciosa, tão delicada que ao tocar sua face parece acariciar, como uma resposta à tudo para não ter pressa. Pra deixar passar. Deixar tocar. Deixar molhar.
E ir embora.
laisser passer