domingo, 4 de maio de 2014
Poucas vezes na vida me vi em posição tão pouco confortável como a que me encontro agora, e não estou falando sobre maneira como estou sentada estranhamente torta na cadeira enquanto escrevo isso, com livros ocupando a maior parte do espaço que é disputado entre mim e os restos de comida que deixei descansando por aqui. Na verdade estou me referindo a minha posição quase-que-deitada sobre os problemas em minha vida, no caminho tortuoso de minha existência. Cheguei aos vinte, cronologicamente falando, mas duvido que tenha alcançado verdadeiramente essa idade. Pelo menos eu esperava que as coisas estivessem menos nebulosas quando eu chegasse aqui. Me sinto desconfortável quando vou trabalhar. Me sinto desconfortável quando estou em casa. Me sinto desconfortável quando estou tentando com veemência ter um momento de distração, tomando algumas cervejas com amigos. Me sinto desconfortável quando estou no ônibus. Me sinto desconfortável em cada canto que encosto. Me sinto desconfortável ao escrever isso. Me sinto desconfortável ao utilizar esta anáfora. Me sinto desconfortável por existir. Todos os dilemas que já tive o desprazer de enfrentar na vida, todos eles convergiram para esse mesmo ponto. São tantas coisas com que me preocupar que mal me preocupo com alguma coisa. Aprendi a ficar num estado vegetativo, e assumo, é bem fácil assim. O problema é que não avanço em nenhuma direção, nem sequer vejo direção para vislumbrar. É como se eu estivesse naquele exato interstício da viagem aérea, entre a decolagem e a estabilização do avião, enfrentando uma turbulência, passando pelas nuvens cinzas com dor nos ouvidos, mal-estar e as mãos suando, no qual qualquer pensamento criativo e inovador fica bloqueado pela lesão causada na zona de conforto.
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