O barulho de um grilo solitário
em seu cantinho solitário
em algum lugar de um mundo solitário
em um universo solitário
E eu penso no silêncio que faz.
E eu me questiono,
ele sabe o por que de sua guizalha?
Ou o faz, por puro e simples dever?
Todas as noites, sem cessar?
E o agrada cantar?
Tritinar?
A solidão de um cigarro,
uma xícara de café frio,
uma janela,
o zunido do gerador do prédio vizinho,
de um grilo,
o barulho do silêncio da cidade adormecida.
De cada luz apagada.
Canto a minha canção silenciosa,
de uma mente em descanso
que nunca pára seu guizalho.
É vazio. Amplo. Inatingível.
A gente deve e faz,
faz porque gosta,
faz por puro dever.
Todas as noites, sem cessar.
E nos agrada?
Mas todas noites eu penso,
porque é quase calmo,
as idéias quase fluem
sem se cruzar,
se embaraçar,
se perder,
sem perceber...
Quantas vezes não pensei,
e esqueci.
E quando deveria pensar
e pensei demais,
findei por não pensar,
só senti.
Às vezes a gente nem sabe o que pensa.
Só o faz.